«O imenso património cultural deixado pelo
Renascimento na Europa é reconhecido internacionalmente como uma marca da
Europa para o mundo. Esse património é um dos pilares fundamentais da
identidade e da consciência colectiva europeia.»
RenEu: New Renaissance in Europa
No dia 24 de Março de
2015, tendo como palco a Casa das Artes, da cidade Invicta, participamos na
Conferência Internacional «RenEU: New Renaissance in Europe», no âmbito do
projecto homónimo, coordenado pela Região da Toscana, Itália, em parceria
estratégica com outras quatro instituições – Patronato de la Alhambra y
Generalife (Espanha), Associação Villa Decius (Polónia), Mision Val de Loire
(França) – e promovido em Portugal, também como parceiro, pela SETEPÉS em
parceria com a Direcção Regional da Cultura do Norte (DRCN), com o intuito de
resgatar os fundamentos necessários para a reflexão e construção de um novo
processo cultural – um novo renascimento – que se alastre por toda a Europa e
reforce o sentimento de pertença e a consciência de futuro conjuntos dos
Europeus.
A manhã foi preenchida
pela apresentação do projecto, com especial destaque para o itinerário
português, “Monastery of Serra do Pilar: A Window on Europe”, sendo que o
Mosteiro da Serra do Pilar, parte do Centro Histórico do Porto Património
Mundial da Humanidade UNESCO, foi o local escolhido para acolher o itinerário
português do projecto pelas suas características renascentistas únicas na
região e na Europa. Ficamos com a sensação, principalmente quando vivemos um
período marcado pela descrença no futuro e insatisfação com o presente, que o
mesmo projecto vai no sentido de se revisitar e reinterpretar o Renascimento à
luz da sua dimensão Europeia, principal propósito do projecto e da conferência.
Estaremos nós, cidadãos Europeus, a fazer o melhor uso deste recurso?
– A pergunta ficou no ar.
Assente em ideias do
Renascimento com a transposição para a Europa contemporânea, ouvimos Pedro
Galera Andreu, Historiador de Arte e Professor Catedrático da Universidade de
Jaén, falar do renascimento europeu como o nascimento do mundo moderno,
perspectivando um modo de pensar mediante a observação, através das técnicas de
perspectiva da Arte, nas perspectivas de representação; representação do homem
como «microcosmo» contendo em sua perfeita proporção da escala maior do
Universo; ordem arquitectónicos clássicos ajustados à variedade de género; o
mundo antigo, exemplo de harmonia entre as Ciências e as Letras; a ânsia do
conhecimento, reforçando a ideia das bibliotecas como novos templos do saber; a
Europa como centro, periferia e migração de homens e ideias; principais centros
artísticos; a influência de Maquiavel no modelo de Estado dos reis católicos;
passando pelo pintor português Francisco da Holanda, que ao viajar para Itália
acabou por escrever um Tratado sobre Artes Plásticas “Da Pintura Antiga”
(1548), e dos mestres d’obras portugueses que trabalharam em Espanha.
O segundo orador da
manhã, Gian Bruno Ravenni, Director Regional de Cultura – Região da Toscana,
apresentou a ideia de fazer a proposta de uma iluminação para a Europa,
recordando os autores da Renascença, não como um passado morto. No fundo, a
ideia europeia com as suas tradições do passado, abrindo-as a novas filosofias
com fins antropológicos. Reforçou, ainda, o objectivo da ideia da migração
intelectual, através dos pensamentos autónomos e originais, referindo-se,
também ele, a Maquiavel; o fenómeno da Europa “RenEU”, assente num novo
programa «Europa Criativa» e no debate sobre a Renascença, como base da nossa
cultura europeia comum. Em suma, para Gian Ravenni, a metodologia tem sido
fazer a ponte, através do debate, entre a Renascença e a Europa Contemporânea,
ligando-a a cinco espaços físicos, lugares únicos, cidades únicas, patrimónios
únicos – itinerários culturais: Florença (Itália), Granada (Espanha), Krakon
(Poland), Porto (Portugal) e Loire Valley (França).
Susana Abreu,
arquitecta e investigadora na Universidade do Porto, fez apresentação do
Mosteiro da Serra do Pilar, enquanto monumento renascentista, como uma
encruzilhada de saberes e sinal de mudança, e Elvira Rebelo, Técnica Superior
de História da Direcção Regional de Cultura do Norte, o Itinerário “Monastery
of Serra do Pilar: A Window on Europe”, salientando ligações do projecto,
pessoas, lugares, como objecto do humanismo renascentista e porta de entrada
para o Património do Norte de Portugal. Para nós, enquanto debate, na nossa
curta intervenção, apresentamos a nossa ideia dedutiva em “dez mandamentos
patrimoniais”: 1 – Arquitectónico; 2 – Cultural (Pontes); 3 – Religioso
(Teológico); 4 – Filosófico; 5- Itinerários; 6- Debate sobre o Renascimento
numa transposição para a Europa Contemporânea; 7 – Migração de pessoas e ideias
(Cultura Humanista do Renascimento); 8 – Corpo e Mente da Europa; 9 – Espaço
monástico como uma visão do mundo, lugar de razão e de imaginação; 10 –
Cosmopolitismo.
A parte de tarde foi
preenchida com um debate «No Rosto da Europa», no qual participaram Bem
Schofield, Professor Universitário no King’s College London e Membro do Grupo
Estratégico da A Soul for Europe; Rémi Deleplancque, Project Manager para a
Educação e Cultura da Mission Val de Loire; Gian Bruno Ravenni e Elvira Rebelo,
tendo como moderadora Susana Abreu. Algumas questões e conclusões importantes retivemos
deste interessante debate: Como definir e quantificar o valor patrimonial; como
podemos desenvolver esse património; a cultura vista como optativa e não
essencial; a Europa a precisar de um paradigma de mudança; o Renascimento
superou as eras obscuras, contudo, não sabemos o suficiente sobre o mesmo; o
aspecto cultural e menos económico; o património como recurso, quando a cultura
e o património já não estão nas políticas da Europa, levando-nos a que já não se
possa entrar pela porta, mas sim pela janela; a construção de uma Cultura
Europeia e não Nacional; construir propostas por toda a Europa, não sendo
possível construir uma entidade estatal sem uma Nova Narrativa; a afectividade
dos lugares e dos objectos, não se protege por decreto; a ética da
hospitalidade; o Património e Cultura estão carregados de formas e de objectos,
nada mais; problema do financiamento dos projectos, quando estão a cortar nas
universidades, nas vertentes da ciência e da cultura; o acesso cultural é um
projecto político e não tem passado apenas de um ideal, levando ao fracasso.
Deduzimos, desta interessante Conferência Internacional, que o acesso ao
Património e à Cultura apresentasse como um trabalho árduo, mas, infelizmente,
obstruído por uma burocracia economicista, para o qual não se nos apresenta uma
réstia de esperança. No entanto, continuamos a acreditar que “o património
cultural pode e deve estar no centro do debate e da reflexão sobre a cidadania
europeia e do projecto europeu”. Haja vontade, por parte dos políticos!
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