«Seus olhos, portugueses e castanhos? De
gazela. E vêem com a pureza do olhar primeiro e o mundo na luminosidade do
acabado de nascer, porque não pinta a realidade do que nos rodeia, embora essa
realidade também possa estar presente…».
Luísa Dacosta
No sábado, 18 de Julho
de 2015, na Ala Jorge Amado da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, foi
inaugurada uma exposição de Cristina Valadas, artista plástica e ilustradora de
renome, que vive e trabalha no Porto, tendo-se licenciado em Pintura, em 1992,
pela Escola Superior de Belas-Artes da mesma cidade, e, em 1994, concluiu a
pós-graduação em Design Têxtil. Expôs o seu trabalho individualmente quase duas
dezenas de vezes, tendo também integrado várias exposições colectivas a partir
de 1988.
Cristina Valadas, para
quem «o mais importante é mesmo o momento
presente e a intensidade com que vivo os momentos e a alegria que deles retiro»,
foi distinguida, entre outros, com o Prémio Maluda (2001). Recebeu também uma
menção honrosa no Salão da Primavera (1999), o Prémio Almada Negreiros (1997),
o Grande Prémio Gulbenkian de Ilustração (2000) e o Prémio Nacional de
Ilustração (2007), que é, tão só, a mais importante distinção na área da
ilustração em Portugal. Para além disso, Cristina Valadas tem várias obras
publicadas para a infância, com especial destaque ilustrações para textos de
Luísa Dacosta (“Robertices” ou “Sonhos na palma da mão”); de Jorge Sousa Braga
(“Poemas com asas”); de Manuel Alegre (“Pó de Estrelas”); e de outros
escritores como Valter Hugo Mãe, Eugénio de Andrade, José António Gomes, Sérgio
Godinho, Álvaro Magalhães, entre outros.
Como diria Rui A. Faria
Viana, Chefe de Divisão da Biblioteca e Arquivo Municipais, numa pequena
cerimónia de abertura na Sala Couto Viana, a “Exposição de Obra Gráfica” é um
projecto de exposições, pelo mesmo liderado, cujo tema é a obra de um artista
convidado, de reconhecido valor, publicada em livros, jornais e revistas por
editoras e instituições nacionais e estrangeiras, iniciado em Maio de 2013, com
a exposição “diário de sombras” de Tiago Manuel (director artístico e coordenar
do projecto), seguindo-se, em Janeiro de 2014, a exposição “domador de imagens”
de João Fazenda, em Julho desse mesmo ano “desenhos atrás do espelho” de André
Carrilho e, em Janeiro de 2015, “história natural com parafusos” de Luís Manuel
Gaspar, exposição que antecedeu aquela que naquele dia foi inaugurada, “vida
desenhada à mão” de Cristina Valadas.
Rui A. Faria Viana
referiu ainda que o mesmo projecto, que se tem evidenciado pela sua coerência
e, também já pela sua consistência, dado tratar-se da quinta exposição, que se
reflecte não só na estrutura das exposições como também nos próprios catálogos.
Agradeceu, ainda, ao Tiago Manuel, enquanto director artístico e coordenador,
pelo trabalho realizado numa atitude de enorme profissionalismo e dedicação, e
imprescindível no bom êxito deste projecto, já muito apreciado pelos vianenses
e muitos visitantes.
Tiago Manuel, por seu
lado, reafirmou a sua convicção, sem “rodriguinhos”, de que em Cristina Valadas
não há um acto gratuito, dado que as suas mãos são um bem significativo da
grande qualidade que coloca na Arte, onde tem procurado a dinâmica de vários
saberes. Daí, ele mesmo ter escolhido o título para esta exposição «vida desenhada à mão», dado que, segundo
Tiago Manuel, «nós os artistas desenhamos a vida à mão»; são as mãos que
acariciam e sentem os objectos. Ainda para Tiago, e porque não para nós (?),
Cristina Valadas, mulher que desenha com os olhos, através das suas
ilustrações, nunca procurou infantilizar as crianças, mas valorizar as suas
inteligências. Não é por acaso que Luísa Dacosta, a voz mais importante das
mulheres que tinham voz, aquela que mais lutou contra a violência doméstica e
“aplicou” a deferência ao sexo das mulheres sem cair na anedota, teve como sua
grande ilustradora Cristina Valadas, dando voz a quem nos ajuda a sermos
melhores pessoas: – A nossa importância
reside naquilo que deixamos! – afirmação contextualizada e oportuna de
Tiago Manuel, a terminar, numa aferência clara aos que vivem e actuam pela
aparência na Arte, de serem sem o Ser.
Maria José Guerreiro,
vereadora do pelouro da Cultura, saudou Cristina Valadas pelo facto de trazer a
esta exposição a beleza e singularidade das suas ilustrações, que já perfumaram
muitos livros, acrescendo ainda o facto de trazer consigo a força e a plenitude
de Luísa Dacosta, a mulher que nos espanta e nos afaga com a sua escrita” –
disse.
Catarina Valadas,
aquando do deambular explicativo da exposição e da dinâmica dos seus vários
saberes – na ilustração de livros para crianças, por exemplo, recorre
habitualmente à técnica mista, combinando a pintura, o desenho e a colagem em
que sobressaem temáticas associadas à fantasia e à natureza –, evidenciou a
cumplicidade que sempre manteve com Luísa Dacosta, ao ponto de afirmar,
alegoricamente, que ela e a Luísa Dacosta haviam casado, quase como marido e
mulher. Esta cumplicidade elevou-se a tal ponto de “exigência” que Cristina
Valadas, para além de criar ilustrações para os textos de Luísa Dacosta, chegou
a colocar a hipótese (concretizada) de a mesma Luísa Dacosta criar o texto a
partir das suas ilustrações. Foi, para ambas, uma espécie de partilha de
saberes.
Esta exposição é uma
homenagem de Cristina Valadas à escritora Luísa Dacosta (1927-2015),
recentemente falecida, e estará patente ao público na Ala Jorge Amado da
Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, até ao dia 31 de Dezembro do corrente
ano. Uma exposição que se recomenda e se impõe a obrigatoriedade de a visitar.
Nota máxima!
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