«Um verdadeiro escritor, tão original quanto
profundo, cujos livros maravilham o leitor, forçando-o a desencaminhar-se das
certezas correntes e a abrir-se a novas realidades»
Miguel Real
À conversa com… é uma iniciativa da Biblioteca Municipal de Viana
do Castelo, que visa promover, em torno do livro, o diálogo e a troca de
conhecimentos com escritores contemporâneos, proporcionando a oportunidade de
conviver de perto com os autores e a sua obra. Com esta iniciativa, que
embrionariamente remonta a Outubro de 2009, cujo primeiro convidado foi o
escritor angolano Luandino Vieira, pretende-se que seja um espaço de incentivo
à leitura, de divulgação das obras dos autores da actualidade, de promoção da
cultura e do conhecimento, e, sobretudo, de interacção entre o público leitor e
os escritores.
Através desta mesma
iniciativa, a noite de 6 de Novembro, Sexta-feira, foi ricamente preenchida com
o escritor, ilustrador, cineasta e músico AFONSO CRUZ, servindo de mote para
dois dedos de conversa o seu último livro «FLORES».
Abstraindo-nos do lado
multifacetado de Afonso Cruz, nomeadamente no que toca às suas lides enquanto
ilustrador, cineasta e músico, dado ser incomportável neste “ao correr da pena
e da mente” esmiuçar todo o seu vastíssimo “curriculum”, teremos em dizer,
principalmente para os mais distraídos, que Afonso Cruz, nascido em 1971 na
Figueira da Foz, mudou-se ainda criança para Lisboa e, percebendo que tinha “jeito”
para desenho estudou no Instituto Superior de Artes Plásticas da Madeira e na
Escola de Belas Superior de Belas Artes de Lisboa. Actualmente vive com a sua
família num monte alentejano onde, além de manter uma horta e um pequeno
olival, fabrica a cerveja que bebe. Mas, a vida de Afonso Cruz nem sempre foi
assim. Antes de decidir trocar Lisboa pelo sossegado Alentejo, vivia,
literalmente, para viajar. Fazia filmes de animação e, com o dinheiro que
ganhava, ia correr o mundo.
Publicou, até à data,
treze livros de ficção: A Carne de Deus
(Bertrand), em 2008, um thriller satírico e psicadélico; Enciclopédia da Estória Universal (Quetzal Editores), em 2009, um
engenhoso e divertido exercício borgesiano com o qual venceu o “Grande Prémio
de Conto Camilo Castelo Branco”, e Os
Livros que Devoraram o Meu Pai (Editorial Caminho), em 2010, livro
infanto-juvenil vencedor do “Prémio Literário Maria Rosa Colaço” de 2009. A
este livro seguiram-se, também em 2010, A
Boneca de Kokoschka (Quetzal Editores) – “Prémio da União Europeia para a
Literatura” – e A Contradição Humana
(Editorial Caminho), vencedor do “Prémio Autores 2011 SPA/RTP”, escolhido para
a exposição White Ravens 2011, menção
especial do “Prémio Nacional de Ilustração”, Lista de Honra do IBBY
(International Board on Books for Young People) e “Prémio Ler/Booktailors” na
categoria Melhor Ilustração Original. Em 2011 publicou o livro O Pintor Debaixo do Lava-Loiças
(Editorial Caminho) e em 2012 Enciclopédia
da Estória Universal – Recolha de Alexandria (Quetzal Editores) e Jesus Cristo Bebia Cerveja (Alfaguara, “Prémio
Time Out – Melhor Livro do Ano”, finalista dos prémios “Fernando Namora” e “Grande
Prémio de Romance e Novela APE”). Em 2013 saíram os livros Enciclopédia da Estória Universal – Arquivos de Dresner (Quetzal
Editores), O Livro do Ano (Alfaguara),
O Cultivo de Flores de Plástico
(Alfaguara), Assim, Mas Sem Ser Assim
(Editorial Caminho) e Para Onde Vão os
Guarda-Chuvas (Prémio Autores para Melhor ficção narrativa, atribuído pela
Sociedade Portuguesa de Autores em 2014). Em 2014 foram publicados os livros Os Pássaros – dos Poemas Voam Mais Alto
(APCC) e Capital (Pato Lógico). Neste
ano de 2015 lançou o romance Flores
(Companhia das Letras) e o livro infantil Barafunda
(Caminho), em colaboração com Marta Bernardes e José Cardoso.
Os seus livros estão
publicados em vários países.
Segundo a crítica,
através do livro Flores, Afonso Cruz
opta por uma rara narração na primeira pessoa (só presente em Os livros que devoraram o meu pai) e por
um registo totalmente diferente de Mar,
3º volume da Enciclopédia da Estória
Universal, editado em Novembro de 2014. A génese de Flores está em A boneca de
Kokoschka (Prémio da União Europeia para a Literatura). É a partir de uma
ideia mencionada nesse livro que o romance é construído. E de semelhante forma
a Para onde vão os guarda-chuvas,
Afonso Cruz utiliza histórias reais para construir um universo ficcional.
Nesta maravilhosa noite
de “à conversa com” Afonso Cruz, evidenciou-se a perca de memórias afectivas e
da necessidade de arranjarmos alguém que nos ajude a recuperar a memória. Se
perdermos a memória o que resta de nós? A coexistência de quem nos ama e de
quem não gosta de nós, tendo em conta que somos seres muito contraditórios;
recordações de momentos especiais e não de rotinas; momentos fora das rotinas
(mundo repetitivo), que nos levam a falarem de nós; “rotina da estupidez”, como
forma de repetir comportamentos, sendo que a rotina acaba por definir o nosso
carácter; conhecer bem o nosso corpo e não acontecer, dado os outros terem uma
perspectiva mais ampla de nós próprios; erro de perspectiva, mostrando as
pessoas de vários ângulos, acabando por destorcer a realidade. As vivências do
quotidiano é que nos levam à escrita e à criatividade.
Afonso Cruz evidenciou
ainda a sua empatia para com Platão, quando procurou falar do problema social
em relação às virtudes, sendo que as mesmas têm que funcionar em simultâneo.
Daí, a nossa moral continuar a ser medieval. Continuamos a cometer os mesmos
erros e as mesmas atrocidades.
Obrigado, pela noite
maravilhosa que nos proporcionaram.
Há noites assim!
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