«O Poeta esboça o caminho, não tão linear,
não tão geométrico assim… O leitor vai atrás deste trilho, sente-lhe o passo,
mais rápido aqui, parado para contemplar e amar… ali. Nós, leitores,
seguimos-lhe as pegadas!»
Lília Tavares
(In Prefácio, «50 Anos / 50 Poemas»)
Conhecemos o António
Carlos Santos há mais de vinte anos, amizade sedimentada em «Café Nocturno», um
entre alguns dos programas radiofónicos que realizávamos e apresentávamos numa
das rádios locais vianenses, ao tempo, com a parceria especial, porque
preciosa, do inesquecível Lucilo Valdez, companheiro de passos comuns, homem do
teatro, da poesia (sim, também era poeta!) e da cultura.
Temos acompanhado,
ainda que de uma forma discreta, toda a produção literária do António Carlos
Santos, sorvendo-lhe a sua veia poética através dos “sons da alma”, porque
inspirada no Amor, no mar, na saudade, nas metamorfoses e no renascer. Também
lhe encontramos sombras, sofrimento, murmúrios, lágrimas, angústias, turbilhões
e desassossego, expressivas introspecções que, logo, no imediato, são
desnubladas pela presença afectiva da mulher, a quem o poeta diz ser «Anjo de asas soltas / gota de aconchego, /
ventre e regaço, / fusão de sonhos, / e porto de abrigo…»; pelo respirar
por inteiro «nas derivas / dum sonho
novo, / tão fugaz / quanto eterno…»; pelo amanhecer e silêncio, onde «…nos eternizámos / neste chão despido / e
inventámos um vento / para deixarmos estas manhãs incertas.» São essas as
carícias e as flores deixadas por António Carlos Santos em «Versos de mel & fel» (2013) e «da Geometria do Amor» (2014).
Debruçando-nos agora
sobre o seu mais recente brado poético, «50
Anos / 50 Poemas», anuência nossa ao assumido “acto de contrição” da
apresentadora, Lília Tavares, quando se demarcou, e bem, pelos «Registos de um
prefácio desnecessário». De facto, como temos vindo a afirmar, por convicção
(ainda que subjectiva), a poesia não se explica, mas sente-se. O acto criativo,
depois de impresso, deixa de ser do autor para ser de quem o lê. Tal como a
Arte, a Poesia é uma actividade humana que consiste em um homem (ou uma mulher)
passar aos outros, intencionalmente, a experiência profunda de emoções, espécie
de conhecimento de si, através da clarificação daquilo que sente, mesmo quando
atropela o tempo: «Escrevo com a tinta
que mancha a saudade / em cada linha da palma da mão. / Atiro os silêncios para
bem longe / onde rompe o curso dos ventos. / Atropelo o tempo para além das
brumas / para me abandonar às sombras…» (p. 13).
Neste «50 Anos / 50 Poemas», António Carlos
Santos percorre o tempo, (in)temporalizando-o, numa evolução alquímica: «Moro ao pé da areia / e fora do tempo. /
Alquímico… rasgo invernos / na orla do deserto. / Bramo quebradiço e suspenso /
nas bóias de chumbo / e na vertigem da liberdade / que marulha solta ao vento!
/ E morro na parte infinita / que brota das margens…» (p. 55); esotérica: «Sei de mim / dos meus retalhos / dos
lamentos / dos abismos / das penumbras / dos instantes / das eternidades / e do
mar que me quer…» (p. 63); e, lapidada: «Com o fogo e o vento cravado no peito / vou para onde cantam as folhas
gritar a primavera.» (p. 75).
Por aqui perpassam
ainda, para além das emoções trazidas dos seus anteriores brados, grãos de
areia, voos, pó das estrelas, entre(vivências), sopros existenciais, estradas a
percorrer, cinzas do tempo, luas desalinhadas e mares nascentes, carregar em
dois tempos e dores de frio, por dores de um país, inspiração íntima em
inspiradas preocupações de José Saramago: «Dá-me
um país de Homens / sem mentiras… / Dói-me este frio! / Dá-me um país! / Não me
dês uma mão vazia / e às vezes… nada.» (p. 25). Simplesmente sublime,
porque sentir e dor nossa, também. Não é poeta quem quer, mas quem sabe
conversar «com as palavras nuas /
enquanto arde o silêncio / em lume passante.» (p. 45), como é o caso de
António Carlos Santos, Poeta-Homem que nasceu em Angola em 1964, tendo vindo
para Viana do Castelo dez anos depois. Frequentou a Escola de Santa Maria Maior
(antigo Liceu) onde teve uma participação activa na Associação de Estudantes e
em diversos eventos escolares. Frequentou o curso de História/Ciências Sociais
na Universidade do Minho, onde fez parte da Associação Académica. Nesta altura
colaborou na fundação do Grupo de Teatro Universitário.
Foi membro fundador da
Tertúlia “Viana é Poesia”, e organizou os “Serões do Central” evento que reunia
mensalmente três artes: Poesia, Pintura e Música.
Escreve poesia desde o
Liceu e, nos últimos anos, foram incluídos poemas seus em Antologia(s) da Moderna Poética Portuguesa.
Segundo ele, debutou,
na poesia, com “Versos de Mel & Fel” (2013) título bem recebido pela
crítica, com assinalável sucesso de vendas. Publicou em 2014 “da Geometria do
Amor” em duas versões: “da Geometria do Amor Poesia & Fotografia”, com a
colaboração do fotógrafo vianense Paulo F. Correia, e “da Geometria do Amor
Poesia”.
Tem realizado várias
sessões de divulgação da sua expressão poética, de norte a sul do país – Viana
do Castelo, Lisboa, Porto, Funchal, Guimarães, Vizela, Oliveira de Azeméis,
Ovar, Maia, Joane, Granja entre outros – e em comunidades portuguesas no
estrangeiro, nomeadamente em Matten e Stans, Suíça e em Toronto, Canadá.
Profissionalmente,
António Carlos Santos está ligado ao ramo da distribuição alimentar, assumindo
a Direcção Comercial de uma cadeia de supermercados e colabora com estruturas
de organização e defesa do comércio independente.
Desenganem-se aqueles que pensam que o pragmatismo está desprovido de
qualquer inspiração lírica, poética. O António Carlos Santos vem demonstrar,
precisamente, o contrário. Para bem da cultura e da poesia, de uma forma
particular, bem-haja por isso!
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