«As linhas, os nós, os fios, de Isabel
Baraona que reflectem a fugacidade do movimento e do momento e acentuam a
fixidez daquele movimento e daquele momento…»
Maria José Guerreiro
Isabel Baraona, nascida
em Cascais em 1974, é licenciada em Pintura pela ENSAV-La Cambre (Bruxelas) e doutorada em Belas Artes pela Universidade Politécnica de Valência,
Espanha, com uma tese sobre a diferenciação entre auto-retrato e
auto-representação no século XX. Em 2013, no âmbito de um pós-doutoramento, foi
bolseira da Universidade Rennes 2
(França) onde desenvolveu uma investigação que deu origem ao projecto Tipo.pt, um arquivo online sobre livros de artista e edição de autor em Portugal; sendo
ainda co-editora de Portuguese Small
Press Yearbook uma edição anual sobre o assunto. Nesse mesmo ano fez uma
residência na Columbia College em
Chicago, ao abrigo de uma colaboração informal e intermitente com o JAB – Journal of Artists’ Books desde 2011.
Em 2001 iniciou o seu
percurso profissional com uma exposição individual intitulada mythologies tendo participado em
diversas exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
É, desde 2011, uma das
organizadoras de “o que um livro pode”, encontros anuais à volta dos livros de
artista e edição de autor.
Rui A. Faria Viana,
Chefe de Divisão da Biblioteca e do Arquivo Municipais de Viana do Castelo,
responsável pelo projecto que há três anos tem evidenciado pela sua coerência
e, também, pela sua consistência, tratando-se já da sétima edição, e se
reflecte não só na estrutura das exposições como também nos próprios catálogos,
começou por salientar o facto deste mesmo projecto se ter iniciado na
Biblioteca Municipal, na Ala Jorge Amado, em Maio de 2013, com a exposição
“diários de sombras” de Tiago Manuel (director artístico do mesmo projecto),
seguindo-se em Janeiro de 2014 com a exposição “domador de imagens” de João
Fazenda, em Julho do mesmo ano, com “desenhos atrás do espelho” de André
Carrilho, em Janeiro de 2015 com “história natural com parafusos” de Luís
Manuel Gaspar, em Julho com Cristina Valadas e a mostra designada “vida
desenhada à mão”, em homenagem a Luísa Dacosta, em Janeiro deste ano com João
Vaz de Carvalho e a exposição “ver com o desejo”, inaugurando-se no pretérito
sábado, 16 de Julho, a exposição “a mão que desenha escreve a palavra” de
Isabel Baraona, que se prolongará até ao dia 31 de Dezembro do corrente ano.
Tal como afirmou Tiago
Manuel, exposições desta natureza revestem-se de um trabalho preciso para os
professores e alunos, uma forma de aproximar os artistas das pessoas,
estabelecendo o contraditório de quando se fala de Arte pensar-se logo nos
museus, e olhar para os artistas como pessoas distantes, quando eles estão
verdadeiramente ligados ao quotidiano. Referiu ainda que em Isabel Baraona há
uma cartografia do corpo como liberdade, aspectos conceptuais que definem o
artista. Em Isabel Baraona cada desenho é assertivo, tendo em conta que há
gente dentro de cada desenho. Nela é uma indisciplina, uma violência e uma
provocação.
Pedro Moura, a quem
Isabel Baraona se referiu com carinho e profunda afectividade, considera-a uma
artista egoísta, qual tom provocatório para desempoeirar o “direitinho dos
alinhados”: «O egoísmo a que nos
referimos não é o de Isabel Baraona, a pessoa, que apenas diz respeito a quem
com ela conviverá, começando pela própria. É a da obra, e o seu nome enquanto
metonímia dela. E esta exposição estende, pela sua diversidade circunstancial,
um traço concreto dessa presença a que chamo “egoísta”, pois como a palavra
quer na sua origem etimológica mostra-se uma perspectiva que parte de uma visão
particular, ancorada num prazer pessoal…» – citamos e corroboramos na sua
plenitude.
De facto, e seguindo o
raciocínio lógico de Pedro Moura, também nós descobrimos que, nesse egoísmo de
prática, o resultado é o convite de uma partilha. Não apenas dos desenhos, mas
desses mesmos actos de travessia. E que no dizer de Maria José Guerreiro, “o
gesto que se acentua, a linha que se aflora ou o risco que se sulca. E todo o
nosso corpo se projecta nesse fio imaginário”. A obediência de Isabel Baraona
ao comportamento próprio dos materiais que emprega... Uma exposição e uma
artista que se recomendam.
A realçar ainda a
presença afectiva, na inauguração da exposição «a mão que desenha escreve a
palavra (obra gráfica editada em livros, jornais e revistas)», do escritor e
seu particular amigo Valter Hugo Mãe.
NOTA MÁXIMA!
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