«O espectáculo não poderia ser mais
extraordinário. As ânforas, jarros e tinas de fogo grego apanharam os
bersekeres e os ferozes guerreiros khazares que escalavam a muralha, ou se
mantinham nas suas imediações totalmente de surpresa. Agoniavam, às dezenas,
centenas, milhares, como diabos ardentes ambulantes, no meio de gritos
lancinantes…»
Alberto S. Santos
Alberto S. Santos, escritor
e político português, de seu nome completo Alberto Fernando da Silva Santos,
nascido em Paço de Sousa, Penafiel, em 1967, esteve presentemente na Biblioteca
Municipal de Viana do Castelo, para estar à conversa connosco. Licenciado em
Direito pela Universidade Católica Portuguesa, exerceu a Advocacia até 2001,
altura em que passou a desempenhar funções autárquicas, como Presidente da
Câmara Municipal de Penafiel até 2013, tendo antes sido vereador da mesma
Câmara Municipal de 1993 a 1997, e membro da Assembleia Municipal, de 1997 a
2001.
Actualmente, para além
de ter retomado a advocacia, é Presidente da Assembleia Municipal de Penafiel,
Presidente da Assembleia Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Tâmega
e Sousa (CIM-TS) e Membro do Conselho da Administração da APDL (Administração
dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo).
Enquanto escritor, de
salientar a publicação de quatro romances: A
Escrava de Córdova (2008), editado também em Espanha e Países da América
Latina, A Profecia de Istambul
(2010); O Segredo de Compostela
(2013); e Para lá de Bagdad (2016).
Apaixonado pelos livros
e pela investigação histórica, comissário do prestigiado evento literário «Escritaria», Alberto S. Santos, para
além de ter sido durante doze anos Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, tem-se
dedicado, ao longo da última década, à escrita. Para lá de Bagdad, com atrás referimos, é o seu quarto romance
histórico, obra que traduz uma extraordinária envolvência sobre um dos momentos
mais intrigantes da História da Idade Média, que dá a conhecer os alicerces de
uma civilização ainda hoje tão deslumbrante quanto desconhecida. Segundo o
historiador e romancista, João Pedro Marques, ler esta obra é ir das ruas de
Bagdad às estepes do Volga, viajar do centro do mundo sedentário até à orla das
terras nómadas, e fazê-lo com a dose de aventura, exotismo e suspense a que os
romances de Alberto S. Santos já nos habituaram.
Tal como um dia disse
Alberto S. Santos, e de certa forma o reforçou no «À conversa com…» do pretérito
dia 24 de Junho, o facto de estudar o passado ajuda-o a compreende melhor o
presente e a estar melhor situado no tempo em que vive. Essa é uma das
vantagens, a vantagem de estudar e investigar o nosso passado comum ajudando-o
a essa melhor compreensão e também permitir-lhe que através das histórias que
conta, os leitores possam fazer também eles esse percurso e essa análise.
Afirma também que nas suas investigações encontra muitas vezes personagens que
o ajudam a compreender muitas pessoas que conhece hoje no presente. Lembra-se
que quando estudava algumas cortes, nos palácios, mesmo nos islâmicos,
nomeadamente em Córdova, para a escrita do seu primeiro livro, havia as figuras
dos bajuladores oficiais. Chegou mesmo a ironizar: – Muitas vezes vejo pessoas que me fazem lembrá-los.
Para lá de Bagdad foi o mote para estarmos «À conversa com…» Alberto S Santos, naquela inesquecível noite de
sexta-feira, 24 de Junho de 2016, na Sala Couto Viana da Biblioteca Municipal
de Viana do Castelo, nosso espaço refúgio para um saudável contacto com os
livros e seus autores. Nomeadamente daqueles que mais gostamos, sendo que
Alberto S. Santos é, entre outros, um deles. Este seu quarto romance discorre
magnificamente através de uma escrita escorreita, fortemente suada, porque
assente em investigação meticulosa (fazendo transparecer na escrita e no
diálogo/debate), recheada de uma dose, quanto baste, de aventura, exotismo e suspense. De facto, «sábio é o verdadeiro viajante que se move
pelo mundo, capaz de descobrir todas as suas faces». Olhar o mundo através
dos olhos Ahmad, quiçá de Alberto S. Santos, atravessando pontes e alcançando
portas, muitas vezes escancaradas ao livre-arbítrio ou a filosóficas alegorias:
«Não pareciam afectados com a derrota nem
com a razia provocada pela batalha entre o grupo de viquingues. Os que
sobreviveram poderiam continuar a festa durante o tempo de vida que lhes
sobrava, enquanto os que foram mortos em combate estariam ainda mais honrados e
felizes».
Assim é a viagem de
Ahmad ibn Fadlan, emissário do califa, que parte de Bagdad para uma arriscada
missão na Bulgária do Volga, na Rússia actual. Enigma para o autor, a
causa-efeito que levaria Ahmad a deixar para trás os mestres e companheiros da
Casa da Sabedoria, que erguerem a época dourada do Islão: «Ahmad recordou aos amigos as palavras do tio Nadir: um dos mais belos
momentos da vida de um homem é o da partida para uma viagem distante, quando
nos libertamos da rotina, da escravidão, do hábito e dos medos que nos oprimem;
é como começar uma nova infância que nos plantará sementes de imaginação, de
memória e de uma nova esperança…». Etapas, emoções, espelho, estado
cognitivo-criativo do autor? Quiçá!
Final arrebatador: – Sim, uma mulher. Fala muito mal a nossa
língua. Diz que veio de um país distante do Norte e traz um bebé que ela diz
ser teu filho. Chama-se Astrud, conheces?!... Um livro e um autor que se
recomendam, porque resultado de sementes de imaginação, de memória e de uma
nova esperança, mesmo quando os sábios continuam a ser perseguidos e os livros
queimados na “praça”.
NOTA MÁXIMA!
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