«Ginzo do Lima, a raiana,
Da Galiza amena aldeia,
Onde o rio principia
A sua vida serrana,
O nome deu ao mortal
Que, longe da penedia,
Vem morrer, beijando a areia
Às praias de Portugal…»
António Ferreira
À parte de alguns
devaneios menos comedidos no “acto solene” da apresentação do mais recente
livro de Cláudio Lima, «Luzes de muito
brilho: Figuras e temas limianos», para os quais em nada podemos assacar a
este magnífico escritor e poeta, temperamos a nossa circunstancial indisposição
(Ó maldita hérnia-discal!) com a
certeza que se “nuestros hermanos” fechassem o caudal do Lima – tamponando-o a
conta-gotas –, a partir da Barca e até à foz estaríamos a beber da água do Vez
e, na ponta final, quiçá, da Ribeira de S. Simão da Junqueira de Mazarefes, que
foi Couto com posse acrescida em Terras de Paradela, banhadas pelo mesmo rio
que nos viu nascer, apesar de a partir das três translações passarmos a beber
água do “Bengo”.
Devaneios nossos também
à parte, jamais nos deixaremos condicionar por imperativos de acantonamento,
principalmente quando os escritores, ao atingirem determinado patamar, se
extravasam para lá da condição de “meninos do rio”. Esse é o caso de Cláudio
Lima, o menino Manuel da Silva Alves, de Calvelo, que cedo se aventurou por
outras paragens até atingir a maturidade intelectual e prosperidade na
adversidade, resignando-a. E se Montapert o disse que «o homem é corpo, intelecto, espírito, e tudo isso deve evoluir
paralelamente para uma vida bem-sucedida e equilibrada», Cláudio Lima,
porque não vive da ociosidade, já há muito que se libertou da ferrugem que
consume mais que o trabalho. Isto, se tivermos em linha de conta que a
ociosidade é como a ferrugem. Tal como um dia escreveu José Hermano Saraiva, «uma chave de que todos os dias nos servimos,
anda sempre limpa e polida», Cláudio Lima é essa chave que, a par de
outras, não necessita de rotulações maiores para ser um dos maiores entre os
maiores. Sancta simplicitas!
Falando agora do «LUZES DE MUITO BRILHO: Figuras e Temas
Limianos», estaremos em dizer que temos entre mãos mais uma magnífica –
estético-literariamente falando – obra de Cláudio Lima. Ainda que o seu
conteúdo seja o resultado da recolha de uma série de pequenos textos de ensaio
ou intervenção, proferidos e/ou publicados “em vários momentos e afectos a
várias celebrações, tendo por nexo estrutural o simples facto de abordarem
temáticas limianas. Como configuram uma sequência dos trabalhos coligidos em Um
rio de muitas luzes (2005)
confiro-lhes agora um título de feição sequencial: Luzes de muito brilho.” –
citamos de “breve nota” do autor.
A metáfora da LUZ, com
capa (extensiva à contracapa) extraordinariamente bem conseguida, do grande
artista da imagem Amândio Sousa Vieira, confere-lhe o lado místico ou
metafísico, à boa maneira platonista: «o
Bem está para a inteligência e para o inteligível, no mundo da realidade inteligível,
como o sol para a vista e para o visível, no mundo da realidade visível» (República, 508c). As alegorias da linha
e da caverna convergem no aprofundamento da metáfora da LUZ, sendo que em
Cláudio Lima funciona como fonte ou factor de conhecimento, de memória e de
expressão (ou manifestação escrita) da verdade. Preferimos a “Luz de muito
brilho” à metáfora dos “faróis” em Baudelaire.
Apesar de Vasco
Rodrigues de Calvelo, Domingos Tarrozo, António Feijó, Campos Monteiro, Queiroz
Ribeiro, João Marcos, António Manuel Couto Viana, Luís de Sousa Dantas, entre
outros, serem os faróis que brilham acima do tempo e que continuarão
eternamente sendo objecto de admiração, de estudo e de inspiração para todos os
artistas, Cláudio Lima imprime-lhes uma Luz própria, peculiar até, num ritmo
alucinante e uma linguagem profundamente melodiosa. Sim, concordamos com
expressão de “autor imparável”, e ainda que nos tornemos repetitivos no
decalque, fazemos nossas as palavras escritas de Maria de Lourdes Brandão: «Cláudio Lima escreve com o coração. O acaso
fez com que nascesse em Ponte de Lima. É português, nortenho, limiano até à
medula, um homem fortemente ligado às suas raízes…». Plenamente de acordo.
A sedução, a nostalgia, o amor profundo à terra que nos viu nascer e aos vultos
que lhe dão corpo, palpitam e eternizam-se, através da saudável (porque bem
construída) escrita de Cláudio Lima. «Faça-se a luz!» E a luz foi feita (2 Cor.
4, 6). Venham outras tantas luzes de muito brilho.
NOTA MÁXIMA!
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