“A
diversidade e arte que os autores (artistas) nos revelam na sua execução, são
facultadas ao leitor através da interessante e maravilhosa colecção de
fotografias que o Reverendo Senhor Padre Artur Rodrigues Coutinho, pela sua
cultura, espírito de investigação, desejo e preocupação de deixar, aos
vindouros, o conhecimento da evolução das sociedades, do passado da história
humana, para melhor se compreender e construir o futuro”
Luís Vila Afonso
Por sempre termos
apreciado a acção intelectual, humanista e espiritual (poderá parecer
redundância, mas fizemos questão de a “tridimensionar”) do nosso aparentado
conterrâneo Artur Rodrigues Coutinho – pois, tal como nós, nasceu na milenar
freguesia limiana de S. Simão da Junqueira de Mazarefes, aos sete dias de
Janeiro de mil novecentos e quarenta e sete –, cedo o elegemos como uma das
referências, eticamente falando, na nossa vida. Apesar de já aqui, numa das
nossas crónicas anteriores, dele termos falado (o que nos isenta de repetitivos
decalques biográficos), continuaremos a creditá-lo como aquele que “sempre
soube aproveitar o contacto com o meio e as populações, auscultando-lhes as
memórias e as vivências, traduzidas e/ou aliadas a um verdadeiro trabalho de
campo, etapas indispensáveis ao conhecimento histórico, etnográfico e
antropológico, tendo em conta que o conceito de etnografia está intimamente
ligado à antropologia” – escrevemos na altura.
«Abrindo Portas», numa
edição esteticamente bem conseguida do Centro de Estudos Regionais (CER), é
mais um trabalho (premeditadamente) sequencial da assoberbada paixão do bom
amigo Artur Rodrigues Coutinho pela etnografia, etnologia e antropologia social
ou cultural. Embora saibamos das ligeiras diferenças de conteúdo, de objecto,
do método e de orientações, estaremos em dizer que, como um dia aventaria
Claude Rivière, essas diferenças assentam muitas vezes e/ou apenas nas próprias
tradições. Se a etnografia corresponde a um trabalho descritivo de observação e
de escrita; a etnologia, “ao elaborar os materiais fornecidos pela etnografia,
visa, após análise e interpretação, construir modelos e estudar as suas
propriedades formais a um nível de síntese teórica, tornando possível pela análise
comparativa”; a antropologia acaba por se apresentar ainda mais generalizadora
do que a etnologia. Tudo isto para concluirmos que as ligeiras diferenças de
conteúdo se sintetizam numa única disciplina, o que nos leva à plena convicção (afirmativa)
de que este trabalho de Artur Coutinho, lançado em cerimónia pública na
Biblioteca Municipal de Viana do Castelo (14.12.2013), é por assim dizer um
abrir de portas – e fazendo nossas as palavras de Fabíola Silva, no prefácio –
“aos curiosos e dá as ferramentas básicas para que todos possam partir para a
descoberta da porta, desde objecto tão banal, mas que na realidade é tão
essencial no nosso quotidiano”. A sintetização a que aludimos (ou constatamos) neste
«Abrindo Portas», está bem patente na minuciosidade descritiva empregue pelo
autor, através de pormenores particulares (profusamente ilustrados) – e que por
vivermos numa globalidade exasperada, os ignoramos ou desconhecemos – contidos
no universal de uma porta: ferrolhos, batentes, aldravas, puxadores, fechaduras,
chaves, dobradiças, trancas, protectores de cantarias, raspadeiras do calçado
(vulgo “limpa-pés”), visores, gateiras, caixas de correio e argolas para prisão
de cavalos. Artur Coutinho é um antropólogo cultural e social atento,
levando-nos a olhar as portas de uma forma diferente.
Neste magnífico
trabalho, Artur Coutinho fala-nos ainda d’A
CASA: ESPAÇO E FRONTEIRA (Capítulo I), sendo que esta, segundo o autor,
“representa o nosso espaço, onde nos sentimos a nós próprios com consciência ou
sem ela, com tranquilidade, com serenidade, com segurança e a presença dos
nossos que nos são muito queridos”; d’A
PORTA NA BÍBLIA (Capítulo II), apresentando-se a mesma como um local
singular e anunciador de algo que se passa dentro, qual alegoria ao facto de
que “uma porta é sempre uma porta para o bem ou para o mal” ou – citando o
próprio autor – “o acto de abrir a porta deve ser um acto de escuta, de
proximidade, de intimidade, mas muitas vezes, distraídos com as coisas do mundo
a fechamos para ela não se abrir com facilidade às coisas de Deus”…
Simplesmente sublime!
Para além da descrição
das FERRAMENTAS E OUTROS ELEMENTOS,
Artur Coutinho fala-nos ainda das portas da Sé Catedral de Viana do Castelo e
da Igreja de Nossa Senhora de Fátima, fechando com “um pequeno olhar sobre
Viana”, onde faz um pequeno registo fotográfico de portas da cidade: “Não se
trata de um registo completo, mas de um desafio para os que pretendam fazer um
trabalho exaustivo sobre estas curiosidades da nossa terra. / Viana do Castelo
tem muitas mais que estas, melhores e piores, mas tão diversificadas que podem
encher os olhos e as mentes de todos aqueles que tenham espírito de observação”
– citamos.
«Abrindo Portas», uma obra com nota máxima!
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