“Os
usos da escrita são decisivos para compreendermos como as comunidades e os
indivíduos constroem representações de um mundo que é seu”.
Do Prólogo
Acabou de sair em
suporte de papel, numa edição da Fundação
Caixa Agrícola do Noroeste, uma obra que teve uma primeira edição em
formato digital, que correspondia a parte do projecto inicialmente delineado
pelos seus coordenadores: Henrique Rodrigues e Ernesto Português. De facto, «Escritas Privadas da Mobilidade e da Guerra»,
e como nos explica o editor, “foi dado a público, numa primeira fase, uma
brochura com índices, resumos e currícula
dos autores juntamente com um CDrom, sob os auspícios da Câmara Municipal de
Monção, de reduzida circulação pelos circuitos comerciais”, levando a que, por
forma a divulgar o projecto por um público mais alargado, quer académicos quer
os leitores em geral, os coordenadores procuraram encontrar um parceiro
editorial com capacidade para atingir tal desiderato, como bem explica o
editor, Fundação Caixa Agrícola do
Noroeste.
Colaboraram neste
projecto diversos investigadores de várias academias, entre os quais
encontramos docentes do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Universidade
de Lisboa, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade do Porto,
Universidade Portucalense-Infante D. Henrique, Universidade Nova de Lisboa e
Universidade Pontifícia de São Paulo, através da divulgação de vários e
valiosíssimos documentos, que, como afirma José Emílio Pedreira Moreira em nota
de abertura, ajudam a “fazer” a “nossa história individual, familiar e mesmo
nacional, sem disso, talvez, terem intenção e consciência. São outra fonte
documental de acesso às ideias, aos problemas, aos projectos, às lutas, à
cultura, à dimensão económica, à organização social e política, ao nível
educacional, enfim, ao domínio do imaginário singular e colectivo que sempre
anima e dirige uma região, uma nação e uma época. É que a linguagem, mesmo na
sua faceta oral e espontânea de interpretar e comunicar, é o reflexo mais fiel
do indivíduo e da sociedade que a fala” – síntese com a qual corroboramos e
que, sobremaneira, reflecte o conteúdo da obra.
Esta magnífica obra
apresenta-se com treze trabalhos, repartidos por catorze autores: Ernesto Português, com «O sentido de
Estado na correspondência familiar de João Pereira Caldas, Governador de Grão
Pará entre 1772 e 1780», p. 17-38; Maria
Izilda Matos, com «Possibilidades de pesquisa e perspectivas didácticas
(Portugal e Brasil)», p. 39-58; Henrique
Rodrigues, com «Epistolário popular e imagens da emigração oitocentista», numa
abordagem às cartas enviadas do Brasil para Viana do Castelo, p. 59-124; Ana Sílvia Albuquerque, com «Escritas da
mobilidade em contextos familiares», numa análise de correspondência de
emigração no primeiro quartel de Novecentos, p. 125-132; Ernesto Português, com «Escritas da Casa de Sende (Monção)», numa
abordagem às correspondências de uma família do Alto Minho do Século XVIII, p.
133-156; Henrique Rodrigues, com
«Correspondência de emigrantes do Alto Minho no período da República», p.
157-194; Joana Pontes, com «Cartas de
Guerra», p. 195-206; Henrique Rodrigues,
Clara Coutinho, Marta Pires, Sofia Ramos e Sónia Simões, com «Escrever para
não morrer», numa análise a correspondências de um soldado de Monção na Guerra
Colonial, p. 207-262; Maria Olinda
Rodrigues Santana, com «Escritos da mobilidade no arquivo pessoal António
Maria Mourinho», com perspectivas didácticas», p. 263-294; Filipa Lopes, com «Os forais afonsino e manuelino de Viana da Foz
do Lima», numa abordagem didáctica, p. 295-324; Gonçalo Maia Marques, com «As escritas de Baco como fonte
histórica, perspectiva didáctica», p. 325-332; Manuela Cachadinha, com «As histórias de vida na investigação em
Educação e Interculturalidade», p. 333-353; e, finalmente, Pedro Teixeira Pereira, com «As Escritas do Poder no Estado Novo»,
numa abordagem didáctica de escritos e ditos, p. 355-364. Esta obra termina com
os resumos dos trabalhos, dum irrepreensível rigor científico, p. 365-372; e
uma síntese biográfica dos autores, p. 373-380.
Em termos de conteúdos,
perpassam pelos diversos trabalhos excelentes investigações, que vão no sentido
de interpretar cartas e correspondências ou outros suportes documentais, sempre
numa perspectiva didáctico-cultural e historiográfica, tendo em conta que os
mesmos nos podem abrir janelas sobre o passado. Tal como afirma Joana Pontes,
as cartas, por exemplo, “cruzam todas as classes sociais e tornam-se parte da
vida de todos os dias, às vezes durante um longo período do tempo. Podemos
estudá-las como textos em si e ouvi-las como fontes, fortemente ancoradas em
contextos particulares”, proporcionando, ao mesmo tempo, o “acesso às ideias,
aos problemas, aos projectos, às lutas, à cultura, à dimensão económica, à
organização social e política, ao nível educacional, enfim, ao domínio do
imaginário singular e colectivo que sempre anima e dirige uma região, uma nação
e uma época” – citando, de novo, José Emílio Pedreira Moreira.
Ao Professor Doutor
Henrique Rodrigues o nosso profundo agradecimento pela elevada consideração,
reflectida em tão gentil oferta e imerecida dedicatória, e os nossos parabéns
aos coordenadores, autores e editor, pelo extraordinário contributo dado para a
valorização da investigação científica, nomeadamente no que toca à “História
das Ideias”, em Portugal. Um livro esteticamente perfeito (magnífica capa de
Henrique Rodrigues), uma leitura que se recomenda.
Nota máxima!
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