Friday, June 13, 2014

Escritas Privadas da Mobilidade e da Guerra!...

“Os usos da escrita são decisivos para compreendermos como as comunidades e os indivíduos constroem representações de um mundo que é seu”.

Do Prólogo

Acabou de sair em suporte de papel, numa edição da Fundação Caixa Agrícola do Noroeste, uma obra que teve uma primeira edição em formato digital, que correspondia a parte do projecto inicialmente delineado pelos seus coordenadores: Henrique Rodrigues e Ernesto Português. De facto, «Escritas Privadas da Mobilidade e da Guerra», e como nos explica o editor, “foi dado a público, numa primeira fase, uma brochura com índices, resumos e currícula dos autores juntamente com um CDrom, sob os auspícios da Câmara Municipal de Monção, de reduzida circulação pelos circuitos comerciais”, levando a que, por forma a divulgar o projecto por um público mais alargado, quer académicos quer os leitores em geral, os coordenadores procuraram encontrar um parceiro editorial com capacidade para atingir tal desiderato, como bem explica o editor, Fundação Caixa Agrícola do Noroeste.
Colaboraram neste projecto diversos investigadores de várias academias, entre os quais encontramos docentes do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Universidade de Lisboa, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Universidade do Porto, Universidade Portucalense-Infante D. Henrique, Universidade Nova de Lisboa e Universidade Pontifícia de São Paulo, através da divulgação de vários e valiosíssimos documentos, que, como afirma José Emílio Pedreira Moreira em nota de abertura, ajudam a “fazer” a “nossa história individual, familiar e mesmo nacional, sem disso, talvez, terem intenção e consciência. São outra fonte documental de acesso às ideias, aos problemas, aos projectos, às lutas, à cultura, à dimensão económica, à organização social e política, ao nível educacional, enfim, ao domínio do imaginário singular e colectivo que sempre anima e dirige uma região, uma nação e uma época. É que a linguagem, mesmo na sua faceta oral e espontânea de interpretar e comunicar, é o reflexo mais fiel do indivíduo e da sociedade que a fala” – síntese com a qual corroboramos e que, sobremaneira, reflecte o conteúdo da obra.


Esta magnífica obra apresenta-se com treze trabalhos, repartidos por catorze autores: Ernesto Português, com «O sentido de Estado na correspondência familiar de João Pereira Caldas, Governador de Grão Pará entre 1772 e 1780», p. 17-38; Maria Izilda Matos, com «Possibilidades de pesquisa e perspectivas didácticas (Portugal e Brasil)», p. 39-58; Henrique Rodrigues, com «Epistolário popular e imagens da emigração oitocentista», numa abordagem às cartas enviadas do Brasil para Viana do Castelo, p. 59-124; Ana Sílvia Albuquerque, com «Escritas da mobilidade em contextos familiares», numa análise de correspondência de emigração no primeiro quartel de Novecentos, p. 125-132; Ernesto Português, com «Escritas da Casa de Sende (Monção)», numa abordagem às correspondências de uma família do Alto Minho do Século XVIII, p. 133-156; Henrique Rodrigues, com «Correspondência de emigrantes do Alto Minho no período da República», p. 157-194; Joana Pontes, com «Cartas de Guerra», p. 195-206; Henrique Rodrigues, Clara Coutinho, Marta Pires, Sofia Ramos e Sónia Simões, com «Escrever para não morrer», numa análise a correspondências de um soldado de Monção na Guerra Colonial, p. 207-262; Maria Olinda Rodrigues Santana, com «Escritos da mobilidade no arquivo pessoal António Maria Mourinho», com perspectivas didácticas», p. 263-294; Filipa Lopes, com «Os forais afonsino e manuelino de Viana da Foz do Lima», numa abordagem didáctica, p. 295-324; Gonçalo Maia Marques, com «As escritas de Baco como fonte histórica, perspectiva didáctica», p. 325-332; Manuela Cachadinha, com «As histórias de vida na investigação em Educação e Interculturalidade», p. 333-353; e, finalmente, Pedro Teixeira Pereira, com «As Escritas do Poder no Estado Novo», numa abordagem didáctica de escritos e ditos, p. 355-364. Esta obra termina com os resumos dos trabalhos, dum irrepreensível rigor científico, p. 365-372; e uma síntese biográfica dos autores, p. 373-380.
Em termos de conteúdos, perpassam pelos diversos trabalhos excelentes investigações, que vão no sentido de interpretar cartas e correspondências ou outros suportes documentais, sempre numa perspectiva didáctico-cultural e historiográfica, tendo em conta que os mesmos nos podem abrir janelas sobre o passado. Tal como afirma Joana Pontes, as cartas, por exemplo, “cruzam todas as classes sociais e tornam-se parte da vida de todos os dias, às vezes durante um longo período do tempo. Podemos estudá-las como textos em si e ouvi-las como fontes, fortemente ancoradas em contextos particulares”, proporcionando, ao mesmo tempo, o “acesso às ideias, aos problemas, aos projectos, às lutas, à cultura, à dimensão económica, à organização social e política, ao nível educacional, enfim, ao domínio do imaginário singular e colectivo que sempre anima e dirige uma região, uma nação e uma época” – citando, de novo, José Emílio Pedreira Moreira.
Ao Professor Doutor Henrique Rodrigues o nosso profundo agradecimento pela elevada consideração, reflectida em tão gentil oferta e imerecida dedicatória, e os nossos parabéns aos coordenadores, autores e editor, pelo extraordinário contributo dado para a valorização da investigação científica, nomeadamente no que toca à “História das Ideias”, em Portugal. Um livro esteticamente perfeito (magnífica capa de Henrique Rodrigues), uma leitura que se recomenda.
        Nota máxima!

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