Saturday, May 16, 2015

VI JORNADAS INTERNACIONAIS DE HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E SAÚDE MENTAL (Coimbra, 11 e 12 de Maio de 2015)

Pelo terceiro ano consecutivo, participamos nas (VI) Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental. A importância destas jornadas traduz-se pela sua regularidade, por um lado, uma área de investigação devidamente institucionalizada no Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra-CEIS20 que deste a sua fundação e institucionalização, em 1988, abriu e manteve com dinamismo esta área de pesquisa que se tem traduzido em projectos de investigação, teses de doutoramento, organização de reuniões científicas, etc. Por outro lado traduz a existência de um conjunto de investigadores interessados nestas temáticas em Portugal e fora do nosso país e que têm neste evento um ponto de encontro para permuta da sua actividade de pesquisa.

Almoço no primeiro dia, pensando em Schopenhauer: «Ninguém é realmente digno de inveja». Pelo menos em Coimbra.

Os convites são formulados de uns anos para outros, face à importância e contributos dados nos anos anteriores, mas obedecem sempre a uma certa crivagem por parte da Comissão Científica da Sociedade de História Interdisciplinar da Saúde – SHIS [Ana Leonor Pereira (Universidade de Coimbra, Portugal); António Carreras Panchón (Universidade de Salamanca, Espanha); João Rui Pita (Universidade de Coimbra, Portugal); Manuel Correia (Universidade de Coimbra, Portugal); Maria Gabriela Marinho (Universidade Federal do ABC; MH-FMUSP, Brasil); e Romero Bandeira (Universidade do Porto, Portugal)], em colaboração científica e institucional com o Grupo de História e Sociologia da Ciência e Tecnologia do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20. Por isso, as Jornadas traduzem a vitalidade desta jovem sociedade científica, que de parceria com o referido Grupo de História e Sociologia do CEIS20, têm levado a cabo estas importantes Jornadas. Este ano, a Comissão Organizadora foi presidida por Ana Leonor Pereira, sendo secretário científico João Rui Pita, coadjuvados por João Morgado Pereira, todos da Universidade de Coimbra.

O Psiquiatra David Simón Lorda e «El Dr. Joseph Durand de Gros y El Caso del Hombre Lobo Blanco Romasanta».

O Psiquiatra David Simón Lorda e a «Electroterapia em finais do século XIX e princípios do século XX». 

No primeiro dia tivemos as comunicações de Kamilla Dantas Matias, doutoranda em Altos Estudos Históricos e Mestre em História da Idade Média pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que nos falou das “Representações da Loucura em Merlin”; de Ana Catarina Pinheiro dos Santos Necho (Doutoranda/Investigadora), deambulando à volta do tema sobre “O Contributo da Psiquiatria Forense para o Entendimento/Jurisdição dos Alienados em Portugal no Séc. XIX; de Carolina Gregório Mendes Álvaro, Historiadora, sobre “Hospital Sobral Cid: A Génese de uma Obra de Assistência Psiquiátrica”; de Carina Bragança Rodrigues, Interna da Formação Específica de Psiquiatria na Unidade Local de Saúde do Nordeste, abordando o tema “Do Dispensário de Higiene Mental À ULS do Nordeste”, trabalho também elaborado de parceria com Mariana Noronha de Andrade, Interna da Formação Específica de Psiquiatria, e Virgílio Palma, Assistente Sénior de Psiquiatria, da mesma Unidade Local de Saúde; de N. Borja-Santos, Especialista em Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, Amadora, abordando “Os Irmãos D’Abranches Bizarro: Pioneiros da Estatística Psiquiátrica e Médica em Portugal”, um trabalho conjunto de M. Lages, S. Castro, S. Sequeira, M. Palma e A. Lérias; de Celia García Díaz, Psiquiatra, Universitary Hospital, Málaga, Spain, com o seguinte tema: “From The Ideal Woman To The Insane: Psychitry, Madness And Gender At The Begninning Of 20TH Century”; e de Karine Le Jeune, University of Nantes (Centre François Viète), France, abordando “A History Of Epilepsy In The Nineteenth And Twentieth Century: Definition And Development Of A Pathology Between Neurology And Psychiatrry”.
    
Professora Doutora Manuela Alvarez e a «Tendência secular das taxas de suicídio em Portugal».

Coimbra, Sé Velha, 11 de Maio de 2015, depois do primeiro dia das VI Jornadas Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental, como peripatético que somos, sentimo-nos sempre reconfortados com a presença e as palavras do MESTRE (espaço e temporalidade aristotélica) Professor Doutor Manuel Curado. No saco vermelho, somos portadores da monumental obra «As Viríadas»: "...uma epopeia portuguesa setecentista inédita, mas não ignorada, em décimas bem ritmadas, cujo autor, Isaac Samuda, é um dos judeus de talento que o fantasma da Inquisição chegou a aprisionar por um tempo e ameaçava persegui-lo de novo, pelo que teve que emigrar...", com edição crítica (p. 17-193), notas complementares (p. 497-642), Índice de assuntos seleccionados (p. 645-661) e onomástico (p. 663-677) do Professor Manuel Curado, numa edição da Imprensa da Universidade de Coimbra. Exagerada a dedicatória: «Para o Sr. Porfírio Silva, amigo de coração de ouro, com a estima perene do Manuel Curado». Valeu Professor!

Sé Velha: nós e o Professor Doutor Manuel Curado e «As Viríadas» de Isaac Samuda.

Excelente jantar no "Guachão". Como seres pensantes, biologicamente, também temos que nos alimentar. 

Da esquerda para a direita: Professores Doutores Manuela Alvarez, João Morgado Pereira e Ana Leonor Pereira.

Professores Doutores João Rui Pita e Manuel Curado, e o Psiquiatra David Simón Lorda, do C. Hospitalario de Ourense.

No segundo dia, para além da nossa intervenção sobre “Camilo Castelo Branco (1825-1890): entre o génio-nevropata e a loucura do seu filho Jorge”, falaram ainda: Adrián Gramary, Médico Psiquiatra, sobre “Stefan Zweig e Joseph Roth: uma análise psiquiátrica da reacção dos intelectuais judeus ao Finis Austriae”; Pedro Macedo, Médico (Interno Complementar de Psiquiatria) do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar de Trás-Os-Montes e Alto Douro, expondo o trabalho realizado em parceria com Filipa Veríssimo, Médica (Assistente Hospitalar de Psiquiatria), com o sugestivo tema “Pintura e Esquizofrenia: Reflexões a partir da Obra de Hans Prinzhorn”; Manuel Curado, Professor Universitário da Universidade do Minho, com uma peculiar comunicação sobre “Médicos e Espíritas: a recepção do Espiritismo no Portugal Oitocentista”; Manuel Viegas Abreu, Professor Catedrático Aposentado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, com “O Caso de Ângelo de Lima, Poeta de Rilhafoles ou Poeta d’Orpheu”, onde fez realçar a fragilidade científica da psiquiatria dos finais do século XIX e princípios do século XX. Com pena nossa, porque se impunha o regresso, condicionado pelo horário, na Rede Expressos, não podemos assistir às comunicações de Miguel Angel Miguélez Silva, Médico Psiquiatra, EOXI, Vigo, Espanha, num trabalho conjunto com Maia Piñeiro Fraga, Enfermeira Especialista en Salud Mental, Maria José Louzao Martinez e Tiburcio Angosto Saura, Médicos Psiquiatras, com dois interessantes temas: “A participação dos psiquiatras portugueses no I Congresso Mundial de 1950 em Paris” e dos psiquiatras espanhóis, no mesmo Congresso; e de Dolores Ruiz-Berdún, Profesora de Historia de la Ciencia, Universidad de Alcalá, Espanha, num trabalho de parceria com Ibone Olza Fernández, Psiquiatra, subordinada ao tema “La Violencia Obstétrica (Histórica y Actual) Y Sus Repercusiones En Las Mujeres Y Los Profesionales De La Atención Al Parto”.

Adrián Gramary, Psiquiatra, e «Stefan Zweig e Joseph Roth: uma análise psiquiátrica da reacção dos intelectuais judeus ao Finis Austriae»

Nós e o «Camilo Castelo Branco (1825-1890): Entre o Génio-Nevropata e a Loucura do seu filho Jorge».

Professor Manuel Curado e os «Médicos e Espíritas: A Recepção do Espiritismo no Portugal Oitocentista».

Professor Catedrático Manuel Viegas Abreu e «O Caso de Ângelo de Lima, Poeta de Rilhafoles ou d'Orpheu».

A premeio com as comunicações orais houve a apresentação de comunicações em poster, das quais destacamos as de David Simón Lorda (trabalho de grupo com Xaqueline Estévez Gil, Maria Victoria Rodríguez Noguera, Mónica Minoschka Moreira Martínez e Tatiana Bustos Cardona: «Electroterapia, “Nervios” Y Psiquiatría En Galicia (España) Finales Del Siglo XIX Y Primeros Años del XX» e «El Dr. Joseph Durand de Gros Y El Caso Del Hombre Lobo Blanco Romansanta (1853). Un “Braidista” En La Corte de Isabel II?»; e de Manuela Alvarez, Professora Assistente do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra, com o tema «Secular Trend of Suicide Rates In The population Of Mainland Portugal Between 1890 And 2011», num trabalho conjunto com os investigadores F. Resende, S. Freitas, A. Pinto, F. Florêncio e H. Nogueira. 
      
Coimbra tem mais encanto na hora da despedida.


      Acabados por chegar de Coimbra, extremamente cansados, mas intelectualmente enriquecidos. Intenso debate, motivação permanente, reconhecimento de quem nos quer bem. Muito abrigado pelo incentivo e pelas sugestões dadas, com a obrigatoriedade de para o ano lá voltarmos. Conhecimento é sofrimento, mas é, sem dúvida, uma terapia aconselhável ao vulcão do entusiasmo. Venham as VII Jornadas. Claro que Russel tem razão quando afirma que «os homens são como as palavras; se não se põem no seu lugar perdem o seu valor». Em Coimbra temos uma extraordinária cumplicidade na troca de palavras, e sabemos dar valor a cada um dos que connosco partilham o conhecimento. 
Há dias assim!

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