«No âmbito do programa de comemorações dos
500 anos dos Forais de Arcos de Valdevez, o Município assumiu a
responsabilidade de perpetuar, na actualidade e no futuro, as memórias
históricas e documentos desta nossa Terra e de um dos períodos mais importantes
da História arcuense e da nação portuguesa…»
João Manuel Esteves
Contando com o rigor
científico de Paula Pinto Costa e António Matos Reis, o Município de Arcos de
Valdevez, no âmbito do programa de comemorações dos 500 anos dos Forais
arcuenses, publicou, em Outubro de 2015, «Arcos de Valdevez: A terra e o foral
manuelino (texto e contextos)». Segundo o presidente deste mesmo município, é
no contexto dos 500 anos de história a olhar para o Futuro, e ao abrigo do
vasto conjunto programático que se estende até Novembro de 2016, que surge este
extraordinário (adjectivação da nossa lavra) volume, completando um outro
importante documento editado em Outubro de 2014, dedicado ao Foral do Soajo, então
elaborado por Paula Pinto Costa.
Com a publicação deste
segundo volume completa-se assim uma colecção de elevada importância histórica,
não só para Arcos de Valdevez, mas também para a região e para o país. Só assim
se compreenderá a mais-valia do texto e contextos, enquanto propósito de se
tornar num documento essencial para a compreensão – no dizer do seu presidente,
João Manuel Esteves, – do passado
arcuense e uma viagem pela nossa História e dos nossos antepassados, cuja
evocação dos seus feitos, das suas leis, dos seus costumes e ritmos de vida,
parecem novamente no nosso presente, construindo as bases da nossa essência
cultural identitária, que, tal como na centúria de quinhentos, é de um povo
empreendedor, que enfrenta os desafios com confiança, esperança e vontade de
querer o melhor para a sua Terra… – citamos, acrescentando-lhe, apenas, a
região e o país.
Constituem este
magnífico (aqui, a adjectivação vai no sentido estético) volume, três capítulos:
I
– TERRAS, MUNICÍPIOS E FORAIS (p. 7-27), com texto de António Matos
Reis, agilizando um percurso histórico por – 1. Terras, enquanto “circunscrições
territoriais, mais ou menos vastas, em que estava dividido o território, para
fins administrativos e sobretudo para efeitos de defesa e, em geral, de
organização militar”; 2. Julgados, a partir do momento e
quando “os problemas da defesa passaram para segundo plano e as funções de
administração da justiça adquiriram uma certa autonomia”, passando a ter uma
grande importância os julgados; 3. Municípios ou concelhos, enquanto
comunidades locais dotadas de autonomia; 4. Forais, documentos que têm “como
função o dar início ou levar à organização de uma nova comunidade” e, noutras
circunstâncias, “reconhecer e confirmar oficialmente uma comunidade já
existente”; 5. Mudanças dos tempos, explicação para o desenvolvimento
económico e social de todo território, com a criação dos municípios,
estando-lhe inerente a consolidação e a defesa das fronteiras; 6. A
urgência de uma reforma, com a elaboração de legislação geral destinada
a ser aplicada por igual em todo o território; 7. A dinâmica do reinado de D.
Manuel I, com a criação de uma comissão especial, por forma a elaborar
novos forais e cobrança das taxas devidas pela sua elaboração; 8.
Processo de elaboração dos forais manuelinos, que passaria por várias
etapas e obedecer a vários requisitos; 9. Os forais e a reforma administrativa,
no fundo, a explicação sobre outorga dos forais
novos e a publicação de leis gerais e vários Regimentos; 10. O processo de outorga, em
análise (acompanhado de um bem elaborado gráfico), entre 1500 e 1520, período
em que foram outorgados à volta de quinhentos forais novos; 11. O
foral manuelino de Valdevez, explicação meticulosa sobre o processo conducente
à elaboração do Foral Manuelino de Valdevez.
II – A TERRA E O CONCELHO DE VALDEVEZ
(p. 29-44), também com texto de António Matos Reis, apontamento que
complementa o primeiro capítulo, através das seguintes abordagens: 1. O legado
da antiguidade; 2. Os tempos obscuros; 3. O emergir de uma “terra”; 4. Os
donatários; 5. Novos tempos; 6. O domínio de Leonel de Lima; 7. Transformações
da economia local, com incidência em três vertentes: 7.1. A feira, 7.2.
Caminhos e pontes, e 7.3. A praça e a capela; 8. A população; 9. O município do
“foral novo”, tratando-se de “um caso singular, o de uma terra que recebe um
foral que define ou confirma a sua identidade municipal depois do foral
manuelino, ao contrário do que sucedeu com a maioria dos municípios portugueses”.
III – O FORAL MANUELINO: TEXTO E
CONTEXTOS (p. 45-83), meticulosamente elaborado por Paula Pinto Costa,
ilustrado por bem elaborados gráficos e tabelas, abordando cinco pontos: 1.
Propriedade, sendo que “o foral dos Arcos de Valdevez dá a conhecer uma
estrutura de propriedade e de articulação de diversas instâncias de poder que
são reflexo da longa história desta terra minhota”; 2. Senhorio e instituições,
espelhados no registo do foral manuelino de Valdevez, onde se encontram
importantes informações, contextualizando a época, titulares e o interesse que
o rei D. Manuel devotou a estas terras; 3. Rendimentos e indicadores de produção,
onde se analisa produtos e obrigações, aferição dos produtos (pesos, medidas e
preços), periodicidade e procedimentos relacionados com os pagamentos, direitos
reais; 4. Pessoas: interesses e formas de afirmação, com destaque para
o estudo dos vizinhos, homens-bons, camponeses e indigentes, somando-se “os
apaniguados do senhor da terra”, os membros do clero e os religiosos, oficiais
(do rei, do senhor, do concelho) e os foreiros; 5. O impacto do foral manuelino,
onde nos é revelado o processo de elaboração de um foral novo e a sua
complexidade, sendo que “o processo de elaboração de um foral novo contava com
a recolha de informação através de inquirições”.
Seguem-se quatro
documentos, que passam pela reprodução fac-simile da versão original do foral
de Valdevez – Arquivo do Museu-Biblioteca
da Fundação da Casa de Bragança, Vila Viçosa, BDM Ms XXXIV – (p. 89-174),
com transcrição (p. 175-223) da versão original, por António Matos Reis;
reprodução fac-simile do registo do foral de Valdevez – Torre do Tombo, Leitura Nova, Livro dos Forais Novos de Entre Douro e
Minho, fls. 77-86 – (p. 227-248), com transcrição do registo (p. 249-282),
por Paula Pinto Costa; Transcrição, por António Matos Reis, do documento em que
D. Manuel concede o título de vila e concelho a Arcos de Valdevez (p. 283); e,
por fim, transcrição, também por António Matos Reis, do documento em cujo
Corregedor de Entre Douro e Minho, no cumprimento do mandato régio que ordenou
o recenseamento das cidades, vilas e lugares da comarca, regista o número de
habitantes (chefes de família) do concelho de Valdevez e das respectivas
freguesias (p. 284-287).
E como não podia deixar
de ser, fazendo jus aos requisitos e rigor científico dos prestigiados
historiadores/investigadores, este magnífico volume, termina com fontes
documentais e bibliografia, e um bem elaborado glossário, por António Matos
Reis.
Um livro que se
recomenda.
Nota máxima!
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