«O João Vaz de Carvalho mostrou-me os
narigudos inspiradores e perscrutadores que se cruzam comigo nesta dimensão
terrena, que se apresentam sinceros e límpidos nos gestos quotidianos…»
Maria José Guerreiro
João Vaz de Carvalho,
nascido em Fundão (1958), desde cedo revelou grande interesse pelas artes
visuais. Autodidacta, é na cidade de Coimbra, no início da década de oitenta
que começa a trabalhar em desenho, pintura e cerâmica na oficina do mestre
Vasco Berardo. Já em Lisboa, a partir de 1987 dedica-se em exclusivamente à
pintura e logo depois também à ilustração. Obtém em 1988 a primeira encomenda
de ilustração para a revista Marie Claire. O humor e o nonsense são essenciais,
sendo a construção dos desenhos uma das etapas que considera mais empolgantes
do seu processo de trabalho. Vive e trabalha na Parede. Realizou dezenas de
exposições em colaboração com inúmeras galerias e participou em vários
projectos e feiras de arte contemporânea. Trabalha regularmente com a Galeria
Trema – Arte Contemporânea. Na qualidade de ilustrador, colaborou com a maior
parte dos títulos da imprensa portuguesa e ilustra livros para os mais novos
tanto em Portugal como no estrangeiro. Entre os prémios recebidos destacam-se:
1.º Prémio Ilustrarte 2005, Bienal Internacional de Ilustração para a Infância;
2 Diplomas dos Prémios Visual 2008, Espanha; 45rd The Golden Pen of Belgrade
Award 2009, Sérvia; 1.º Prémio da Crítica do Calendario Duemila 2011, Cremona,
Itália; 1.º Prémio de Caricatura World Press Cartoon 2011, Sintra; Award of
Excellence of Communication Arts 2012, EUA; Prémio Winner da Criative Quarterly
2012, EUA; Prémio Runner-Up da Criative Quarterly 2012, EUA.
Mais ou menos
sugestionados por estas breves notas acerca de um dos mais conceituados
artistas de artes visuais, João Vaz de Carvalho, bem vincadas no painel da
Exposição da sua autoria, «ver com o desejo», onde se procura
fazer uma abordagem, ainda que concisa, à sua obra gráfica editada em livros,
jornais, revistas e objectos (entre os quais destacamos porcelanas da “Vista
Alegre”); e nas palavras de abertura de Rui A. Faria Viana, responsável pelo
projecto a que deu o nome de «Exposição de Obra Gráfica», cujo
tema, e sem temermos ser repetitivos, é a obra de um artista convidado, de reconhecido
valor, publicada em livros, jornais e revistas por editoras e instituições
nacionais e estrangeiras. Rui A. Faria Viana, fez questão de recordar que a
primeira exposição aconteceu em Maio de 2013, com «diários de sombras» de
Tiago Manuel, circunstancialmente director artístico e coordenador do mesmo
projecto; seguindo-se a exposição «domador de imagens» de João Fazenda
em Janeiro de 2014; em Julho de 2014, com «desenhos atrás do espelho» de André
Carrilho; em Janeiro de 2015, com «história natural com parafusos» de
Luís Manuel Gaspar; e, em Julho do mesmo ano, com Cristina Valadas e a
exposição designada «vida desenhada à mão»,
congratulando-se “por se tratar de um projecto de exposições coerente e
consistente que tem perdurado no tempo e que espero venha a continuar a trazer
a Viana do Castelo os artistas mais significativos da ilustração portuguesa”,
lembrando e agradecendo, ao mesmo tempo, todo o empenho do pintor Tiago Manuel,
na direcção artística e coordenação de todo o trabalho e na concepção dos
catálogos, que se têm revelado, também, autênticas obras de arte. Ao todo, entre
2013 e 2015, passaram pela Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, cinco conceituados
artistas de artes visuais.
Agora, com João Vaz de
Carvalho e a «ver com o desejo», abre-se o ano de 2016 da melhor forma.
Inaugurada no pretérito sábado, 16 de Janeiro do corrente ano, esta exposição
estará patente ao público até ao dia 9 de Julho de 2016.
Tiago Manuel, começou
por falar deste projecto ligado às artes visuais (e não só) como o único
interessante em Viana do Castelo, manifestando o apreço e a preocupação do
Município vianense, em trazer até nós estes artistas que passam ao lado, só
porque estão por trás de obras magníficas, considerando, ao mesmo tempo, João
Vaz de Carvalho como o primeiro artista que trazia a Viana do Castelo, escultor
da fantasia, onde há uma espécie de alegria de vida, em detrimento do humor
negro. Recordando uma das máximas do seu mestre Júlio Rezende, quando um dia
afirmou que “até para fingir que não se sabe é preciso saber-se muito…”, acabou
por realçar a qualidade artística de João Vaz de Carvalho: “bússolas que nos
reorientam para o essencial” ou “heterónimos de Fernando Pessoa, simbolizados
por cadeiras”.
Maria José Guerreiro,
vereadora do Pelouro da Cultura, orientou a sua referência estética para o
“fingimento da criação”, apreciando o humor fantasiado de João Vaz de Carvalho,
tendo em conta que – fazendo nossas, suas palavras – o humor é que nos salva a
capacidade de olharmos para nós e percebermos a nossa finitude: «Estamos lá todos, na nossa finitude e
grandeza, na nossa ambição e medo, na coragem quotidianamente construída e
reconstruída. Estamos lá todos. Sem excepção. Obrigado, João!» – citamos.
Segundo Ju Godinho e
Eduardo Filipe, curadores da ILUSTRARTE, “o mais fascinante dos mundos
paralelos (que nunca se encontram com o nosso, a não ser no infinito) é a ténue
possibilidade de existirem. E contudo, as únicas provas que temos da sua
existência são aquelas que nos são trazidas pelos raros que descobriram as
raras passagens de lá para cá. / O João Vaz de Carvalho pertence a esse grupo.
Há muito que visita periodicamente um desses mundos paralelos…”. Essa foi a
nossa sensação, partilhada quer pelo fingimento da criação ou quer mesmo pelo
humor fantasiado, onde “os personagens, apanhados em flagrante, sabem bem de
onde vêm e para onde vão”. Por isso, estivemos lá e atrevemo-nos a recomendar
uma visita demorada a esta magnífica exposição.
Nota máxima!
No comments:
Post a Comment