«Não sou homem de correr atrás de modas.
Vejo-me, hoje como há sessenta anos, sozinho, no meu canto, sem incomodar
ninguém, a ler, a pensar, a estudar. Gosto de intervir no mundo da Cultura,
porque sou – com muito orgulho – um intelectual assumido, mas sempre vivi
afastado de idealismos redentores e de populismos amnésicos…»
Artur Anselmo
Já a algumas semanas a
esta parte que tínhamos em nosso poder a gentil oferta do livro «HISTÓRIA DO
LIVRO E FILOLOGIA» do nosso particular amigo Professor Doutor Artur Anselmo
(que teve a gentileza de apresentar o nosso livro «Baliza Trágica de Um
Naufrágio» em Viana do Castelo), filólogo romancista de formação, historiador
do livro por velha afeição indeclinável, doutorado pela Sorbonne (Paris – IV) e
pela Universidade Nova de Lisboa, docente jubilado desde 2011, tendo
leccionado, ao longo de cerca de quarenta anos, cursos de Língua, Literatura e Cultura
Portuguesas, Semiologia, Cultura Clássica Greco-Latina e História do Livro, no
Brasil e em Portugal. Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, é também,
pelo terceiro ano consecutivo, o presidente da Classe de Letras desta
instituição fundada em 1779.
O livro foi apresentado na Sala Couto Viana da
Biblioteca Pública Municipal de Viana do Castelo, pelas onze horas do dia 7 de
Maio de 2016. Por que estivéssemos na “obrigação” de estarmos presentes,
acrescendo o facto do apresentador de circunstância ser outro dos nossos
particulares amigos, Doutor António Matos Reis, intelectual sério e um dos mais
conceituados investigadores nacionais, duas fortes razões pelas quais se
impunha a nossa presença. Foi uma magnífica apresentação, que acabaria por despoletar
um interessante debate, à volta do livro e do Acordo Ortográfico.
Em nota de
circunstância, Artur Anselmo acaba por esclarecer a circunstância – com o
devido pedido de desculpas pela nossa redundância – de quarenta anos volvidos,
ter regressado ao ponto de partida, no seu dizer, «à sagrada aliança com a
Filologia, essa árvore robusta e frondosa a que, cedo ou tarde, têm de
acolher-se todos quantos, vindos da História, ou da Sociologia, ou da
Bibliografia Material, ou da Literatura, ou da Informática, pensam, escrevem,
teorizam – umas vezes repetindo e outras vezes inovando – sobre livros de ontem
e de hoje. Em qualquer dos casos, sempre com a coragem de evitarem incursões no
futuro, que só a Deus (ao Livro) pertencem» e, ao mesmo tempo, impelir-nos à
leitura dos “ensaios” inseridos nesta História
do Livro e da Filologia, espaço físico aberto à nossa curiosidade, porque
uma das nossas maiores paixões. O Livro como ponto de partida e chegada, o
conhecimento das técnicas de reprodução do pensamento, recorrendo cada vez mais
aos métodos próprios da filologia. Tal como afirma Artur Anselmo, «passar um
texto para letra de fôrma é uma operação complexa, que tem não só múltiplas
afinidades com o exercício da escrita manual mas também particularidades técnicas
nem sempre familiares ao comum dos leitores, aos bibliógrafos e aos bibliófilos…»
– citamos.
Este magnífico livro,
para além de ter a particularidade acrescida de conter o texto inédito da Acta
do Júri do Prémio Antero de Quental atribuído à «MENSAGEM» de Fernando Pessoa
em 1934, por ele perpassam trabalhos, que nos escusamos (por uma questão de
ética deontológica e desmerecimento intelectual) esmiuçar, tais como:
Vocabulários da Língua Portuguesa editados em Portugal (1866-1970), p. 23-32;
Um século de reformismo ortográfico (1911-2011), p. 33-44; Avisos e lembranças
de um coleccionador de livros, p. 45-52; O Livro Português e o Humanismo
Europeu, p. 53-66; Armas Nacionais impressas como marcas de sabor tipográfico,
p. 67-76; As edições portuguesas dos Colóquios de Garcia d’Orta (1563-1963), p.
77-88; Como e onde se imprimiu em 1619 a «Vida de Dom Frei Bertolameu», p.
89-98; D. Francisco Manuel de Melo, Plagiador, p. 99-102; Frei Manuel do
Cenáculo e a Biblioteca do Convento de Jesus incorporada na Academia das
Ciências de Lisboa, p. 103-114; O espírito polémico de Herculano na Defesa do
Património Espiritual e Material, p. 115-124; Entre Gigantes: Camilo, José
Caldas e Frei Bartolomeu dos Mártires, p. 125-137; Bibliófilos Micaelenses: Os
três irmãos da família Canto, p. 138-150; Leite Vasconcelos e o Livro Antigo,
p. 151-156; Cinco Editoras do Século XX, p. 157-175; História Editorial do
Romance Emigrantes, de Ferreira de Castro, p. 176-183; Considerações sobre a
Acta do Prémio «Antero de Quental» (1934) desaparecida durante oitenta anos, p.
184-195; No tempo em que os jornais tinham Suplementos ou Páginas Literárias,
p. 196-205; Sobre os Conceitos de Humanismo e Renascimento no pensamento de
Pina Martins, p. 206-214; A crítica histórica e literária em Joel Serrão, p.
215-224; Elogio Histórico de Justino Mendes de Almeida, p. 225-231. Termina com
a citação – bibliografia – da proveniência dos textos (p. 233-234), através de
sínteses, comunicações, intervenções em colóquios, introduções e textos
inéditos deste ilustre professor jubilado.
Congratulamo-nos,
aplaudindo ao mesmo tempo, com o aparecimento de mais esta magnífica obra do
Professor Doutor Artur Anselmo, numa aprimorada edição “Guimarães” – chancela
“babel” –, tendo em conta ao rigor científico à mesma emprestado, saído da
sapiência do maior e mais avalisado especialista nesta área.
NOTA MÁXIMA!
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