Friday, November 29, 2013

“Nas Janelas da Minha Alma” em Francisco Carneiro Fernandes!...

“Talvez seja a Poesia – enquanto Partilha – palavra-chave, para sabermos ser contemporâneos, com as asas possíveis da Liberdade!”

Francisco Carneiro Fernandes

Foi com o maior orgulho e satisfação que fizemos a apresentação pública do mais recente trabalho em poesia (Janelas da Minha Alma) do nosso bom amigo e velho companheiro das lides laborais e literárias Francisco Carneiro Fernandes, ilustre geógrafo, escritor e poeta vianense, nascido em 1953, no lugar mater da nossa “Princesa do Lima”, Santa Maria Maior.
Como fizemos questão de salientar no dia do lançamento (23 de Novembro), «Nas Janelas da Minha Alma» (Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editora), as palavras amoldam-se ao dizer e praticar em Francisco Carneiro Fernandes: “Talvez seja a Poesia – enquanto Partilha – palavra-chave, para sabermos ser contemporâneos, com as asas possíveis da Liberdade!”, palavras essas que se ajustam (Partilha e Liberdade), também, ao nosso “estádio terráqueo” ou civilizacional: a nossa relação com os outros, condimentada pelo direito à Liberdade de cada um, a verdadeira expressão política que Agostinho da Silva reconhece como «um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou o intimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma luta de que a não interessam nem dificuldades nem extensão». E «Nas Janelas da Minha Alma», vai precisamente nesse sentido.
Já uma vez aprendemos com o seu excelso pai, o inesquecível Filipe Fernandes, que não é poeta quem quer, sendo necessário para o ser, a sensibilidade para apreender, observar, sentir e criticar, mesmo que as vezes o façamos de maneira irónica, subtil, outras de forma satírica e causticante. Senão, vejamos o que Francisco Carneiro Fernandes partilha connosco, em jeito de nota introdutória ao «Nas Janelas da Minha Alma», citando Oscar Niemeyer: «O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein». Desenganem-se aqueles que procuram “curvas de carácter” na poesia de Francisco Carneiro Fernandes, dado que aqui «há limas e limões em verdes tons / fora das convenções. / E laranjas / no parapeito das mansardas!» e onde «é urgente Ser Poeta / na partilha da mensagem: / plasmando / teares abandonados / políticas de terra queimada / veios das redes cortados / estaleiros sem fábrica / alfaias / engolidas pelas máquinas e pelos medos!...», quiçá irradiado pelo espírito luminoso de seu pai: «Pai, hoje fazes anos!... Bem sabias / quão sérios eram, tristes e tão breves / esses dias… Por isso, colorias, num rol de filhos, cânticos alegres!» e seu ascendente «Mendes Carneiro, voz esclarecida / em tanta justa causa social: / do Belo, do Amor, do Bem da Vida, / Pátria de Avô e Neto fraternal…».


Neste maravilhoso livro de poesia há memórias e eternidades comuns a cada um de nós, trazidas do MAR – qual poética das caravelas e silêncio das estrelas, se abrirá ao luar da serra! –, poema com que abre o «idílio montanha acima / partilhar o disco de vinil, / do verde pinho, da luz infinda / a ver o mar / no jardim do teu olhar…»; desafios possibilitados pela viajem (ou forma de viajar) para além dos espelhos, aprendendo a regressar à luz solar; esotéricas aberturas de janelas ao luar (memória do tempo que está para nos tempos em Inez dos Anjos Hortel), maravilhoso soneto arrancado ao sótão da sua alma de criança: «Já passaram cem anos, minha Avó! / O fruto do Amor, que foi meu Pai, / a Luz do vosso olhar, por estar só…»; melodias crepusculares em fim de tarde: «Piano, balada-sonata / de embalo e delicadeza. E a chuva forte a anunciar / variações de ouro e prata / em chama acesa»; rasgar de papéis da memória, quebrando um bisel do espelho, enquanto sonha acordado: «É a mocidade que passa / através da vidraça… / Leva no peito a viola / e a guitarra em pensamento»; olhar atento àquilo que o aflige, mesmo enquanto geógrafo: «País rectangular só tem nariz… / Morre o pulmão das aldeias, / sangra o coração das cidades / e o fígado nas tabernas! / É urgente Geografia / da paisagem humanizada…»; falar mais do que muito ser humano «por fora pintado, vazio por dentro!»; respirar dentro de si «flor que não mente / a do silvado / sem flor mas sempre verde…»; sopro de incompletude no coração da humanidade; Pomba Branca «a canção de embalar que tu cantavas (…) é mar do teu olhar!»; dia de Aniversário, presente e passado, restando «um fio de azeite / no aparador da Saudade!...»; Rainha da Paz em manto de linho alvo, azul-escuro do mar profundo, roxo da compaixão no declinar da tarde, Rosário às nossas preces no mês de Maio; Magia de Criança, sendo «contemporâneo / da existência já vivida e por viver».
Na poesia de Francisco Carneiro Fernandes há ainda relógios indiferentes ao bater da hora; carruagens do tempo; penumbras e silêncios com asas da liberdade: «E guardo, / para sempre, / a imagem da tua voz ausente… / Silêncios e pausas, / em linhas abertas / nas Janelas da Minha Alma!»; agridoces nostalgias; poemas como cerejas; sorriso das palavras; espelhos e janelas; essências da existência terrena; sorrisos campestres; sem-abrigo: «Mais sensato que o novo-rico / de umbigo metido pra dentro / a gastar a tripa forra / o que não lhe pertence, / depositaste quase tudo no fiel proprietário / depois de pedires uma bebida quente»; o Manel da Praça: «O filósofo da juventude não era ele / era muita gente e não era ninguém!» (bela definição, que para ser sentido e fazer sentido, o poema terá que ser lido na íntegra); a Feira da sua infância, quais recordações trazidas até nós através deste extraordinário poeta memorialista: «Na feira da minha infância / a noite irradia clara… / E contagia o comércio de bairro / com conta, peso e medida, / que apurava nesse dia a vida / duma semana de trabalho!»; a bicicleta que já foi moderna «e fazia escola, quando a malta partilhava quartos de hora, / aprendendo a subir os degraus da vida / na cidade ou na aldeia mais remota»; os brinquedos, qual avião azul, escondido algures no sótão, ou na cave, que «de vez em quando sai do armário / e acorda-me a voar…», etc., etc.    
Como corolário deste nosso modesto contributo/partilha, tomaremos como nossas as palavras do escritor e poeta Fernando Melim, em prefácio ao livro «Olhares», de Francisco Carneiro Fernandes: «A linha mestra da Poesia mergulha fundo nas raízes da saudade. Também este poeta, esta poesia, se enleiam no espaço imenso, feito de dias e de permutas, de sonhos e de esperanças, de alegrias e de medos, que se escoam por entre os dedos, de mansinho, como um punhado de areia limpa e seca». De facto, o poeta Francisco Carneiro Fernandes continua a mergulhar fundo nas raízes da saudade em «instantes irrepetíveis, / eternidades por descobrir… / A imensidão dos possíveis!».
         Nas Janelas da Minha Alma, um livro de poesia com nota máxima!

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