“O
vocabulário do amor é restrito e repetitivo, porque a sua melhor expressão é o
silêncio. Mas é deste silêncio que nasce todo o vocabulário do mundo”
Vergílio Ferreira
Raquel Rodrigues,
nascida (1959) e criada em Viana do Castelo, licenciada em Gestão Comercial e
Contabilidade, acaba de publicar o seu terceiro livro de poesia «O Silêncio que
Fala», numa edição da “Chiado Editora”. Vocacionada desde muito cedo para a escrita
e para as artes, áreas em que se considera uma autodidacta, publicou o seu
primeiro livro «Sentimentos», em Julho de 2011, e «Telas em Prosa» – um desafio
aceite de ilustrar o seu livro de poemas com as suas telas –, em Outubro desse
mesmo ano. Expôs pela primeira vez, de 28 de Janeiro a 29 de Fevereiro de 2012,
na Galeria do Instituto da Juventude de Viana do Castelo e, em Setembro desse
mesmo ano, na Galeria da Câmara Municipal de Caminha.
Falando agora do seu
último brado, «O Silêncio que Fala», para o qual fomos incumbidos do prefácio e
da sua apresentação – levada a cabo no pretérito Sábado, 11 de Janeiro de 2014
–, teremos em dizer que «O SILÊNCIO QUE FALA» de Raquel Rodrigues,
afigura-se-nos como, e deduzindo das suas próprias palavras, o pintar da “tela
da vida em tons de fogo” (e como o AMOR é fogo!), querendo viver na plenitude,
tendo como sentimento a palavra VIDA. E associa-se ao “silêncio que fala” da
vida: o sonho, a paixão, o desejo, o(s) beijo(s), a solidão, o existir, o
destino, o desalento, o vazio, o sentir, a saudade, o olhar, a partilha, o
prazer, a alma, a paixão, o abrigo, o mar, o sol, a chuva, o vento, o deserto,
a noite e o dia, o tempo, os espinhos, o perfume, os corpos e a cumplicidade do
SER.
É através do SER que
Raquel Rodrigues se entrega ao sonho que desabrocha como rebentos ao vento, sem
querer que ele acabe, esculpindo imagens com as folhas do mesmo; percepciona e
sente a luz do luar invadindo o corpo; cheira a maresia vinda da janela do
quarto e sente a brisa do mar perfumando o corpo, num “platinado sensual que
inebria”; experiencia o devaneio por entre a bruma da solidão; tem o desejo de
sentir, mesmo quando na sua ausência, dando vida ao desejo de sentir (desejo
sentido, premiado pela felicidade de sentir); vislumbra a linha do horizonte
onde o céu toca o mar, qual odor de maresia e passos que levam ao infinito;
procura as “asas do destino”, a ânsia de beijar e mãos percorrendo o corpo até
ao íntimo, no toque e o afagar, culminando no êxtase da união, no prazer e rejuvenescimento,
“alvoroçante entre lençóis / e aromas de amor findado”; salgada por fora,
sangrando por dentro; voar para além do “negror do sonho”, gritando para além
do infinito; sentindo amantes indivisíveis – o antes e o depois do amor –,
quais peles salgadas do amor feito, expressariam a cumplicidade do seu ser “de
ti em mim”; conta passos dados em redor da vida, num correr desenfreado para os
braços da noite; questiona a vida que se reflecte na imensidão da amargura,
estando e resistindo com a força do seu ser; faz amor com o mar, entregando-se
às suas carícias, sentindo-se sua, através da sensualidade singela do seu toque
na sua pele; ensaia o voo rasante da razão, com o levantar dos braços bem alto,
voando no tempo, qual gaivota no mar dos seus sentidos; acordar no sussurro das
palavras, etc., etc.
Raquel Rodrigues,
também tem um sentir político, premeditado através do grito: “Não tolero / Não
aceito / É um nó na garganta / Que asfixia / O grito / À liberdade / O querer o
não ter / O pão para comer…” ou “Preciso acreditar / Que este Outono / Se
transforme em primavera / Que a minha voz / Se torne soante / Em contíguo com /
A do meu povo…”, sobrelevando, ao mesmo tempo a Liberdade: “… Socialmente
injusto / Onde a corrupção prolifera / No sofrimento de um povo / Que nada faz
para o derruir / Que sente / E se adapta / Que fala mas não age…”, passando
pela “… desgraça / Dos que sobrevivem / Com a míngua do ser…”.
Tal como alguém um dia
diria “não é poeta quem quer”, mas quem age pelo sentir, transcendendo e possibilitando
o pensamento, fazendo eclodir a visão poética a partir da “raiz única das
potências da alma”. E, para nós, Raquel Rodrigues preenche todos esses
requisitos, porque lhe sentimos esse pulsar, através das suas próprias
palavras: “A poesia é palavra muda / Que brota do peito / Dorido…”.
Gostamos deste «O
SILÊNCIO QUE FALA» e isso nos basta, para o acharmos esteticamente perfeito (excelente
capa – parabéns a Susana Monteiro) e recomendarmos a sua leitura!
No comments:
Post a Comment