Friday, February 21, 2014

“N-COOLTURA” proporciona visita guiada ao Castro de Roques!...

“A vontade enérgica é uma esperança meia realizada”

Camilo Castelo Branco

Foi com uma “vontade enérgica” que participamos no último dia das jornadas culturais do “N-COOLTURA”, projecto cultural protagonizado, de forma pioneira, por três freguesias vianenses do vale do Neiva: Vila de Punhe, Mujães e União de Freguesias de Barroselas e Carvoeiro, sendo que as autarquias envolvidas compreendem a importância da cultura no desenvolvimento intelectual do indivíduo e da comunidade e, nesse sentido, assumem o compromisso de desenvolverem, até 2017, diversas actividades circunscritas ao mesmo projecto. Segundo nos apercebemos, embora o projecto seja marcadamente de âmbito cultural, numa visão integrada e complementar, admite a possibilidade de outros temas serem expostos, como, por exemplo, o ambiente, o desenvolvimento, a educação e o desporto. Há a realçar o facto de o Núcleo Promotor do Auto da Floripes ter tido um papel importante nesta fase inicial deste mesmo projecto que, enquanto projecto didáctico, se pretende aberto e multi-participativo, obrigando “a uma ligação umbilical com a comunidade escolar e a um contínuo envolvimento do rico tecido associativo e institucional que abrange as três comunidades” – citamos, dos objectivos do “N-COOLTURA”.


Imbuídos pelo espírito de cooperação, ainda que como mero espectador, preenchemos a parte da manhã de 15 de Fevereiro de 2014 (Sábado), ouvindo Alexandre Parafita, Professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, escritor e investigar, através de uma excelente palestra subordinada ao tema “Tradições, lendas e mitos: o que vale o património imaterial de um povo?”, indo ao encontro do “slogan” destas jornadas culturais: «O IMATERIAL E O PATRIMÓNIO LOCAL». Excelente dissertação, complementada com uma exposição filatélica: «O património do Vale do Neiva» e a leitura da “Lenda do Santinho”, da autoria da jovem estudante Andreia.

Da esquerda para a direita: Manuel Rego, Tarcísio Maciel, Porfírio Silva, António Costa e Manuel Ribeiro

Da parte de tarde, rumamos até à acrópole do Castro de Monte de Roques, povoado fortificado com ocupação da época do ferro, de planta ovalada, constituído por cinco cinturas de muralhas, com cerca de seis hectares, tendo em alguns troços aproveitado para a defesa o declive natural do terreno. Noutras zonas, como por exemplo no sector N., parece que as muralhas eram reforçadas. Casas de planta circular, com pavimento de terra batida e fogueira central; alguma delas têm aparelho exterior distinto do interior e ficam junto a um arruamento lajeado com conduta lateral para a água. Dentro da primeira cintura de muralhas existe uma fonte de mergulho, bastante obstruída; o Penedo do Galo e o da Pegada do Santinho, cavidades que deram aso à lenda de São Silvestre e seu cajado; e a tão conhecida Boca da Serpe que foi, segundo tradição, a entrada da cisterna onde os castrejos se abasteciam de água, qual “visita pedagógica”, magistralmente guiada pelo Arqueólogo Tarcísio Maciel, nos faria recordar o grande vulto do vale do Neiva, Leandro Quintas Neves (1895-1972), os seus trabalhos, assim como as comunicações apresentadas em vários congressos nacionais e internacionais sempre bem acolhidos, tanto pela oportunidade como pela sua qualidade. Toda esta região, Leandro Quintas Neves palmilhou de uma forma incansável registando todos esses passos ao ínfimo pormenor, com a mestria que lhe era peculiar, transpondo para os seus trabalhos toda a envolvência que caracteriza e enforma o «modus vivendi» do homem alto-minhoto. Escreveu um dia o Coronel Alberto Sousa Machado, a seu propósito: «Como escritor, apesar do seu muito saber, foi um modesto sem qualquer presunção ou vaidade. O seu carácter de uma honesta sinceridade vincada tanto o seu proceder nas relações humanas como os seus escritos fruto de um estudo meticuloso e persistente. É essa faceta característica de todos os seus escritos no ramo das ciências a que se dedicou, a arqueologia e a etnografia». E como bem recordaria Tarcísio Maciel, foi Leandro Quintas Neves o pioneiro, que trouxe até nós, desenterrando do passado, o Castro de Roques. À acrópole desta grande “metrópole” castreja, guiados pela grande mestria de Leandro Quintas Neves, subiram grandes vultos da arqueologia e da etnografia de então, tais como: Coronel Sousa Machado, Abel Viana, Prof. Doutor Santos Júnior, Tenente Coronel Afonso do Paço, José Rosa Araújo, entre outros.

E porque, ao falarmos do nosso passado, estamos a falar do nosso futuro, já não era sem tempo de começarmos a ter mais respeito pelo património (material e imaterial) da nossa região, de modo a acreditarmos num futuro melhor e proficuamente COOLtural!

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