Tuesday, March 11, 2014

Minas e mineiros em «Cadernos do Património Vilarmourense»

“A fundação do Grupo de Estudo e Prevenção do Património Vilarmourense, em Janeiro de 2004, foi um acto de vontade e não desistência. Vontade em unir saberes e competências diferentes na formação e percursos de vida mas comuns no propósito de construir conhecimento novo sobre a história de Vilar de Mouros”

GEPPAV

O dinamismo de certos “agentes culturais regionais” mereceu sempre da nossa parte uma verdadeira e profunda veneração, e quiçá gratidão, face ao que é exigível à sensibilidade de cada um de nós, por sentirmos que neste mundo cada vez mais globalizado, o associativismo é o “parente mais pobre” da Cultura, também ela, face às circunstâncias da medíocre volatilidade dos políticos, cada vez mais pobre. Mas, felizmente, há pessoas que não desistem, nomeadamente quando estão em causa ameaças ao património de um lugar circunscrito ou mesmo uma região, ao ponto de se desdobrarem em esforços na defesa e inventariação desse mesmo património, o que é o caso do Grupo de Estudo e Preservação do Património Vilarmourense (GEPPAV), cujos objectivos norteadores se integraram, naturalmente, na mais representativa colectividade cultural de Vilar de Mouros, o Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense. Esse mesmo propósito fica bem vincado nas palavras iniciais, em jeito de apresentação, ao IV volume dos “Cadernos do Património Vilarmourense: Desde então, com uma actividade persistente e a boa vontade da comunidade de que fazemos parte, podemos orgulharmo-nos do trabalho realizado. Fizemos frequentes alertas públicos relativos ao património da freguesia – quando da destruição de parte dos moinhos do Viso; sobre os efeitos nocivos de obras nas Azenhas e na calçada das Telheiras; da degradação física da ponte medieval, das fontes e fontanários ou das pesqueiras; mais recentemente, da poluição do rio Coura provocada pelas escombreiras das minas de Covas… (p. 5), ficando a sensação de todos os “intervenientes activos” se preocuparem com o rigor científico que este tipo de trabalhos exigem, passando pela realização de dezenas de entrevistas e depoimentos gravados, fotografia de milhares de páginas em arquivos e bibliotecas, digitalização de espólios familiares documentais e iconográficos, percorrendo os caminhos do passado.

     
      «Minas e mineiros em Vilar de Mouros no século XX: Exploração de estanho e volfrâmio nas concessões da Fonte Nova e Castelhão» é o tema que Raquel Cepeda Alves, Paulo Torres Bento, Joaquim Aldeia Gonçalves, Plácido Ranha Silva Souto, Basílio Barrocas e João Arieira, trazem até nós neste IV volume dos “Cadernos do Património Vilarmourense”. Como ainda se pode ler na apresentação, este “Caderno”, respeitando o formato das anteriores edições, divide-se em duas secções distintas mas complementares no interior do tema único: “Pelas premissas referidas, são dois os Estudos incluídos – um respeitante à concessão da Fonte Nova, assinado pelo colectivo GEPPV; o outro centrado na mina de Castelhão, da responsabilidade da primeira autora do trabalho, a geóloga Raquel Alves. Na segunda parte, reservado aos Documentos, publicam-se os depoimentos de vilarmourenses que trabalharam em ambas as minas (sobretudo em Castelhão)”.
À semelhança dos anteriores, trata-se de um excelente trabalho, mesmo que tomando das palavras dos outros, de grande rigor e erudição, aliados a uma notável humildade científica e a uma incansável energia. Apesar da escassa ou inexistente informação sobre o tema, aliada ao enorme vazio documental, decorrem da mestria dos seus autores (Paulo Torres Bento, Joaquim Aldeia Gonçalves, Plácido Ranha Silva Souto, Basílio Barrocas e João Arieira) a explanação sobre “A concessão da Fonte Nova (1916-1992)”, abordando três itens: 1. A Fonte Nova na época da Grande Guerra – a “mina dos Quilovates”; 2. A Fonte Nova na Segunda Guerra Mundial – o “tempo dos Pelicas”; e, finalmente, 3. A Fonte Nova na década de 50 – “trabalhos de pilha” na Coverna. Por seu lado, Raquel Cepeda Alves, abordando “O tempo do minério a patir de Castelhão”, reproduz-nos o seu estudo em sete vertentes: 1. Portugal e as minas – leis, administração e corridas ao minério; 2. Região Mineira d’Arga – a serra e as suas franjas; 3. Vilar de Mouros – singularidades geológicas e mineiras; 4. Concessão mineira de Castelhão – da esgrima documental; 5. “Foi tudo para Castelhão” – o dealbar de uma mina do volfrâmio; 6. Espaço Mineiro Abandonado – impacte e memória; e, 7. Minas Vilarmourenses – património, recursos e ordenamento.
Por fim, na segunda parte, são reproduzidas entrevistas a Maria da Soledade Jesus Fernandes de Castro (1920-2007), Adão Isaac da Silva (1921-2011), Glória Maria Barbosa (1922), Firmino Ferreira de Sá (1931), José Maria Serra (1929), Joaquim Augusto de Oliveira (1928-2012), Manuel António Guerreiro (1936) e Guiomar dos Prazeres Barrocas (1935), João Sebastião Gonçalves “Violante” (1927-2012), Maria Helena Pereira (1929), terminando com diversos documentos, elaborados cronologicamente, excelentes gráficos e tabelas bem documentadas com fotografias de locais de “Interesse Geológico e Mineiro (LIGs) de Vilar de Mouros, e uma magnífica Carta Geológica de Portugal a cores, envolvendo Vilar de Mouros e envolvente NW da Serra d’Arga (Extracto da proposta de revisão da Folha 1 C – Caminha).
De extraordinária concepção gráfica, a cargo de Carlos da Torre, porque esteticamente perfeita, esta obra conta com os apoios da Câmara Municipal de Caminha, Junta de Freguesia de Vilar de Mouros e Direcção Regional de Cultura do Norte. Nota máxima!

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