“A fundação do Grupo de
Estudo e Prevenção do Património Vilarmourense, em Janeiro de 2004, foi um
acto de vontade e não desistência. Vontade em unir saberes e competências
diferentes na formação e percursos de vida mas comuns no propósito de construir
conhecimento novo sobre a história de Vilar de Mouros”
GEPPAV
O dinamismo de
certos “agentes culturais regionais” mereceu sempre da nossa parte uma
verdadeira e profunda veneração, e quiçá gratidão, face ao que é exigível à
sensibilidade de cada um de nós, por sentirmos que neste mundo cada vez mais
globalizado, o associativismo é o “parente mais pobre” da Cultura, também ela,
face às circunstâncias da medíocre volatilidade dos políticos, cada vez mais
pobre. Mas, felizmente, há pessoas que não desistem, nomeadamente quando estão
em causa ameaças ao património de um lugar circunscrito ou mesmo uma região, ao
ponto de se desdobrarem em esforços na defesa e inventariação desse mesmo
património, o que é o caso do Grupo de Estudo e Preservação do Património
Vilarmourense (GEPPAV), cujos objectivos norteadores se integraram,
naturalmente, na mais representativa colectividade cultural de Vilar de Mouros,
o Centro de Instrução e Recreio Vilarmourense. Esse mesmo propósito fica bem
vincado nas palavras iniciais, em jeito de apresentação, ao IV volume dos
“Cadernos do Património Vilarmourense: Desde
então, com uma actividade persistente e a boa vontade da comunidade de que
fazemos parte, podemos orgulharmo-nos do trabalho realizado. Fizemos frequentes
alertas públicos relativos ao património da freguesia – quando da destruição de
parte dos moinhos do Viso; sobre os efeitos nocivos de obras nas Azenhas e na
calçada das Telheiras; da degradação física da ponte medieval, das fontes e
fontanários ou das pesqueiras; mais recentemente, da poluição do rio Coura
provocada pelas escombreiras das minas de Covas… (p. 5), ficando a sensação
de todos os “intervenientes activos” se preocuparem com o rigor científico que
este tipo de trabalhos exigem, passando pela realização de dezenas de
entrevistas e depoimentos gravados, fotografia de milhares de páginas em
arquivos e bibliotecas, digitalização de espólios familiares documentais e
iconográficos, percorrendo os caminhos do passado.
«Minas e mineiros em Vilar de Mouros no século
XX: Exploração de estanho e volfrâmio nas concessões da Fonte Nova e Castelhão»
é o tema que Raquel Cepeda Alves, Paulo Torres Bento, Joaquim Aldeia Gonçalves,
Plácido Ranha Silva Souto, Basílio Barrocas e João Arieira, trazem até nós
neste IV volume dos “Cadernos do Património Vilarmourense”. Como ainda se pode
ler na apresentação, este “Caderno”, respeitando o formato das anteriores
edições, divide-se em duas secções distintas mas complementares no interior do
tema único: “Pelas premissas referidas, são dois os Estudos incluídos – um respeitante à concessão da Fonte Nova, assinado pelo colectivo GEPPV; o outro centrado na mina de Castelhão, da responsabilidade da primeira autora do trabalho, a geóloga Raquel Alves. Na segunda parte, reservado aos Documentos, publicam-se os depoimentos de vilarmourenses que trabalharam em ambas as minas (sobretudo em Castelhão)”.
À semelhança
dos anteriores, trata-se de um excelente trabalho, mesmo que tomando das
palavras dos outros, de grande rigor e erudição, aliados a uma notável
humildade científica e a uma incansável energia. Apesar da escassa ou
inexistente informação sobre o tema, aliada ao enorme vazio documental, decorrem
da mestria dos seus autores (Paulo Torres Bento, Joaquim Aldeia Gonçalves,
Plácido Ranha Silva Souto, Basílio Barrocas e João Arieira) a explanação sobre
“A concessão da Fonte Nova (1916-1992)”, abordando três itens: 1. A Fonte Nova
na época da Grande Guerra – a “mina dos Quilovates”; 2. A Fonte Nova na Segunda
Guerra Mundial – o “tempo dos Pelicas”; e, finalmente, 3. A Fonte Nova na
década de 50 – “trabalhos de pilha” na Coverna. Por seu lado, Raquel Cepeda
Alves, abordando “O tempo do minério a patir de Castelhão”, reproduz-nos o seu
estudo em sete vertentes: 1. Portugal e as minas – leis, administração e
corridas ao minério; 2. Região Mineira d’Arga – a serra e as suas franjas; 3.
Vilar de Mouros – singularidades geológicas e mineiras; 4. Concessão mineira de
Castelhão – da esgrima documental; 5. “Foi tudo para Castelhão” – o dealbar de
uma mina do volfrâmio; 6. Espaço Mineiro Abandonado – impacte e memória; e, 7.
Minas Vilarmourenses – património, recursos e ordenamento.
Por fim, na
segunda parte, são reproduzidas entrevistas a Maria da Soledade Jesus Fernandes
de Castro (1920-2007), Adão Isaac da Silva (1921-2011), Glória Maria Barbosa
(1922), Firmino Ferreira de Sá (1931), José Maria Serra (1929), Joaquim Augusto
de Oliveira (1928-2012), Manuel António Guerreiro (1936) e Guiomar dos Prazeres
Barrocas (1935), João Sebastião Gonçalves “Violante” (1927-2012), Maria Helena
Pereira (1929), terminando com diversos documentos, elaborados
cronologicamente, excelentes gráficos e tabelas bem documentadas com
fotografias de locais de “Interesse Geológico e Mineiro (LIGs) de Vilar de
Mouros, e uma magnífica Carta Geológica de Portugal a cores, envolvendo Vilar
de Mouros e envolvente NW da Serra d’Arga (Extracto da proposta de revisão da
Folha 1 C – Caminha).
De
extraordinária concepção gráfica, a cargo de Carlos da Torre, porque
esteticamente perfeita, esta obra conta com os apoios da Câmara Municipal de Caminha, Junta
de Freguesia de Vilar de Mouros e Direcção
Regional de Cultura do Norte. Nota máxima!
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