“Ladeando
as linhas de água, em charcos, brejos e/ou pauís desenvolve-se um conjunto de
espécies vegetais denominadas «formações ripícolas», que dão abrigo e alimento
a muitas espécies de fauna, tais como anfíbios, aves e mamíferos raros”
EIRA (Associação de Estudos e
Intervenção Regional Para o Ambiente)
Já lá vão algumas décadas
a esta parte que participamos em inúmeras iniciativas, através de visitas e
observação de campo, com a vista à classificação da Zona Húmida de S. Simão,
como Zona Protegida a nível Europeu. Daí, ao recebermos o convite do Movimento Jovem pela Mudança (MJM) para a
sua brilhante iniciativa «BIO+ Conferência,
Ambiente e Agricultura», iniciativa essa que teve lugar, no pretérito dia
21 de Março, na Sede da Freguesia de Mazarefes e Vila Fria, e que contou com a
presença dos ilustres palestrantes: Eng.º Horácio Faria – “A Zona Húmida de S.
Simão no contexto do Noroeste Ibérico”; Eng.ª Marisa Duarte – “A
sustentabilidade do Ecoturismo”; Eng.º Francisco Alves e José Emílio – “O PERSU
2020 e a Resulima”; e, Eng.º André Vasconcelos – “A importância da formação
para o sucesso do empresário agrícola”, prontamente acedemos a tão honrosa
deferência. Comunicações perfeitas, excepcional articulação entre o ambiente,
ecoturismo, tratamento de resíduos e desenvolvimento económico através da
agricultura, dariam uma irrepreensível sequência ao propósito para a
sensibilização ambiental, dado que a zona húmida de S. Simão é um biótopo
integrante na rede nacional dos “sítios de interesse europeu para a conservação
da natureza”, como fez questão de salientar o Eng.º Horácio Faria.
É evidente que não é
nosso propósito desenvolver aqui, amiudamente, as intervenções, mesmo que a
sistematização se pudesse encontrar num “ponto-de-fuga”, tendo em conta ao
espaço disponível e/ou tolerável neste tipo de crónicas, iremos falar um pouco
da “Zona Húmida de S. Simão no contexto do Noroeste Ibérico”, em anuência
(precedida de uma fraterna cumplicidade) à excelente explanação do Eng.º
Horácio Faria. De facto, de acordo com inúmeros estudos efectuados por
instituições ligadas ao Ambiente, a cartografia geológica da área em questão,
confirma-se a natureza predominantemente aluvial desta unidade física, sendo de
aceitar que o actual curso do ribeiro de S. Simão (com nascente em Subportela e
o contacto com leito do Lima ocorre em S. Simão da Junqueira, Mazarefes) seria
no passado uma antiga margem do Lima e, dessa forma, haveria um estuário mais
aberto e profundo por volta dos dez mil anos.
Com cerca de 450 ha de
terrenos alagados e aproximadamente 200 ha de campos e matas dispersas e
envolventes, e com uma ligação “umbilical” ao meio estuário do Lima, topograficamente,
a zona húmida de S. Simão é uma planície, facilmente inundável no Inverno, em
consequência da subida de caudal do rio ou de situações de cheias, possuindo
locais deprimidos onde no Verão permanece uma toalha líquida adjacente ao
ribeiro, como é o caso do denominado local das “Lagoas de Vila Franca”, onde
foram efectuadas intervenções de grande monda (nas quais, esporadicamente,
colaboramos), face à falta de civismo de alguns “psicopatas” de circunstância,
que das lagoas faziam lixeira.
Tomando por base um
estudo efectuado nos finais dos anos oitenta, princípios dos anos noventa, do
século passado, estaremos em citar que “a água como factor do ambiente
potencializou uma evolução da flora e da fauna mais diferenciada e naturalizada
nesta zona húmida, na medida em que os seus terrenos alagadiços quase sempre
impunham condições muito adversas para certas práticas agrícolas e culturais.
Perante os esforços de humanização deste espaço, de que a tentativa de cultivo
do arroz foi exemplo, subsistem ainda hoje campos de cultura (de milho, feijão,
legumes e prados, de vinha, etc.), em mosaicos traçados pelo labor humano, mas
coexistindo – numa aparente harmonia – e competindo com várias espécies
naturais/residentes no decurso de séculos. / Ora é esta natural competição que
presentemente interessa manter porque dela brotam espécies florísticas
selvagens (muitas delas adormecendo no solo em forma de sementes e/ou rizomas),
mas que logo despontam quando certas condições como a ausência e/ou fraca alteridade
do meio pelo homem ocorre” – como tão bem corroborou o Eng.º Horácio Faria na
sua excelente intervenção.
Em 1995, a EIRA
conjuntamente com outras associações propôs à Câmara Municipal de Viana do
Castelo um projecto de «Valorização da
Zona Húmida de S. Simão e Lagoas de Vila Franca Como Espaço Para a Educação
Ambiental», para efeitos de financiamento, ao abrigo do Regulamento de
Apoio a conceder pelo IPAMB às ADAS’s. Tal candidatura foi objecto da devida
apreciação e mereceu, em consequência, a sua aprovação oficial, através de
contrato de financiamento para concretização e execução de tal projecto. Por
sua vez, a Câmara Municipal, em 1996, face ao empenhamento e vontade
manifestada pelas associações, elaborou um projecto de classificação da Veiga
de S. Simão como área de paisagem protegida a apresentar junto do ICN
(Instituto de Conservação da Natureza), sendo que este Instituto viria a
manifestar a certeza de que a Veiga de S. Simão tinha um valor natural que
transcendia o interesse local e regional, enquadrando-se nas áreas a proteger
em termos europeus.
Em 2001, a mesma Câmara
Municipal de Viana do Castelo desenvolveu um projecto cujas finalidades
principais visavam a definição e o ordenamento de percursos de observação dos
valores presentes nesta zona húmida; a proposta de concepção de uma sinalética
para orientar os visitantes; a possibilidade de se implementar acções ou
pequenas infra-estruturas de apoio à observação e/ou vigilância da área
natural; e a produção de material de divulgação sobre este biótopo. Na altura,
chegou-se mesmo a fazer uma sessão de esclarecimento e uma exposição na Casa do
Povo de Mazarefes. Infelizmente, do papel à prática, tudo ficou em
“banho-maria”.
Passados todos estes anos, o alerta, sem que
antes tivéssemos falado a esse respeito, foi deixado pelo Eng.º Horácio Faria: “Abrem-se
grandes possibilidades de no próximo Quadro Comunitário de Apoio este espaço
Natural vir a ser financiado, tendo subjacente a Protecção e Valorização da
Veiga de S. Simão”.
Haja vontade de
reactivar velhos anseios, passando do papel à prática. Com uma infra-estrutura
de raiz, aí sim, poder-se-iam fazer regressar os achados arqueológicos navais,
de que são exemplo, as pirogas encontradas no estuário do Lima (século IX/X).
A articulação entre o
Homem e a Natureza faria o resto!...
No comments:
Post a Comment